Rock’n’roll nasceu como eufemismo de sexo
É verdade que, do ponto de vista musical, o megafestival que começou ontem deveria se chamar mais propriamente Pop in Rio. Mas como seu nome fala em rock desde a primeira edição, quando o elenco era um pouco mais roqueiro, é a fascinante história dessa palavra que vamos contar aqui. Afinal, como dizia a tautológica […]
É verdade que, do ponto de vista musical, o megafestival que começou ontem deveria se chamar mais propriamente Pop in Rio. Mas como seu nome fala em rock desde a primeira edição, quando o elenco era um pouco mais roqueiro, é a fascinante história dessa palavra que vamos contar aqui. Afinal, como dizia a tautológica versão brasileira do título de um longa-metragem sobre o Led Zeppelin, The song remains the same – rock é rock mesmo!
Em primeiro lugar, não, o rock como nome de um estilo musical – e de toda uma cultura, atitude, indústria etc. – nada tem a ver com o sentido mais conhecido do inglês rock, isto é, “rocha, pedra”. Esta palavra é filha do inglês arcaico rocc, oriundo do mesmo termo do latim medieval, rocca, de onde saiu em última análise a nossa “rocha”.
A família linguística do rock musical é outra: a do verbo do inglês arcaico roccian (“sacudir, balançar”), que deu no verbo moderno to rock, de idêntico significado. A aproximação desse rock ao mundo do showbiz começou verbal mesmo, na gíria dos negros americanos. Primeiro nasceu uma acepção registrada em 1922 nos meios blueseiros: “obrigar alguém a se mexer ao ritmo de uma música”. Daí brotou o substantivo rock com o sentido de “ritmo musical caracterizado por batida forte”, atestado em 1948. Tudo isso está no dicionário etimológico de Douglas Harper.
Mas não é só. A expressão completa rock’n’roll (uma forma abreviada de escrever rock and roll, algo como “sacudir e rolar”) ainda teria que esperar alguns anos para batizar o estilo musical: seu primeiro registro é de 1956. No entanto, a locução rock and roll já fazia sucesso desde os anos 1920 como gíria eufemística para “relação sexual”. É de 1922 uma canção chamada “My man rocks me (with one steady roll), algo como “Meu homem me sacode (com uma só rolada firme)”. Esse charme transgressivo não pode ser descartado por quem quiser compreender o sucesso de rock’n’roll como marca de uma cultura de rebeldia jovem cuja fundação estava se consolidando naqueles meados do século 20.