Rio, capital da facada. Em mais de um sentido
A onda de assaltos com faca no Rio de Janeiro – que esta semana resultou na morte do cardiologista Jaime Gold – chama atenção para a polissemia da palavra “facada”. O substantivo existe na língua desde 1562, segundo a datação do Houaiss, em sua acepcão literal de “golpe dado com ou ferida provocada por faca”. […]

A onda de assaltos com faca no Rio de Janeiro – que esta semana resultou na morte do cardiologista Jaime Gold – chama atenção para a polissemia da palavra “facada”.
O substantivo existe na língua desde 1562, segundo a datação do Houaiss, em sua acepcão literal de “golpe dado com ou ferida provocada por faca”.
É impreciso o momento em que a facada passou a acumular sentidos figurados. Alguns deles são relativamente próximos do núcleo semântico original da palavra: “surpresa dolorosa” e “ofensa, agressão covarde”, por exemplo.
Também comum ao português falado nos dois lados do Atlântico, mas já com relação mais tênue com a faca propriamente dita, é a acepção de “pedido de empréstimo de dinheiro por alguém que costuma ser mau pagador” (Academia das Ciências de Lisboa).
É daí que brotou por extensão óbvia – pelo menos no Brasil – uma acepção de grande circulação à qual os lexicógrafos ainda não deram a devida atenção: “preço extorsivo cobrado por um bem ou serviço”.
Faz tempo que este sentido de facada também anda na moda na metrópole mundialmente famosa que sediará os Jogos Olímpicos do ano que vem, onde é cada vez mais difícil ganhar a vida e cada vez mais fácil perdê-la – para assaltantes e suas facas, para a polícia e seus fuzis, para os hospitais e suas filas, para atropeladores pontuais, para socorristas atrasados, para governantes omissos, para nada.