Racismo desclassifica
“As ofensas racistas sofridas pelo goleiro Aranha, do Santos, provocaram a mais rigorosa punição já adotada num caso desse tipo no país”, noticiou VEJA.com no último dia 3. “Em julgamento realizado nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, a 3ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu, depois de uma sessão que durou […]

“As ofensas racistas sofridas pelo goleiro Aranha, do Santos, provocaram a mais rigorosa punição já adotada num caso desse tipo no país”, noticiou VEJA.com no último dia 3. “Em julgamento realizado nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, a 3ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu, depois de uma sessão que durou quase quatro horas, pela eliminação do Grêmio da Copa do Brasil, responsabilizando o clube gaúcho pela conduta de seus torcedores.”
Marco jurídico na luta contra as ofensas raciais no mundo do futebol, a notícia faz de “racismo” a Palavra da Semana e me leva a reproduzir abaixo uma coluna de 2012 – da seção Curiosidades Etimológicas – sobre a origem desse termo, que é muito mais recente do que a prática a que se refere.
A palavra racismo é uma filha do século XX, embora aquilo que nomeia tenha raízes bem mais fundas na história. A mais antiga menção conhecida surgiu na revista francesa Revue Blanche em 1902, num artigo assinado por A. Maybon, como racisme.
Em inglês, a palavra racism desembarcou em 1936, empurrada pela necessidade de nomear as políticas que o nazismo aplicava então na Alemanha. Não há registro de uma data precisa para a estreia do termo em português.
Pouco antes disso, no século XIX, quando se deu o apogeu das teorias “científicas” que buscavam mapear uma série de explicações naturais para as diferenças entre os homens, falava-se em racialismo, termo supostamente neutro, e não em racismo, que desde o início carregou conotações negativas.
Definir o racismo com precisão é tarefa controversa, mesmo porque a propria ideia de raça em que o termo se baseia tem sido contestada pela ciência. O dicionário Oxford lança mão da noção popular e não científica de raça para afirmar que racismo é “a crença de que todos os membros de cada raça possuem características, habilidades ou qualidades específicas daquela raça, especialmente de forma a distingui-la como inferior ou superior a outra raça ou raças”.
Havia fartura de ideias racistas na antiguidade e na Idade Média: o ancestral instituto da escravidão sempre foi, pelo menos em parte, sustentado pela crença na inferioridade de algumas etnias. No entanto, a maioria dos estudiosos considera o racismo como hoje o entendemos uma construção moderna, que acompanhou e justificou o imperialismo europeu em sua expansão.