Quitar uma dívida é aquietá-la
O parentesco do verbo quitar (saldar uma dívida, livrar-se de uma obrigação) e do adjetivo ao qual ele deu origem, quite, com o verbo aquietar perdeu-se nas brumas da história, mas em termos etimológicos é cristalino. Quitar uma dívida, liquidar um compromisso, livrar-se do incômodo e às vezes violento credor era, na origem, o mesmo […]
O parentesco do verbo quitar (saldar uma dívida, livrar-se de uma obrigação) e do adjetivo ao qual ele deu origem, quite, com o verbo aquietar perdeu-se nas brumas da história, mas em termos etimológicos é cristalino.
Quitar uma dívida, liquidar um compromisso, livrar-se do incômodo e às vezes violento credor era, na origem, o mesmo que aquietá-la, deixá-la repousar – embora o sono tranquilo assim obtido fosse, em primeiro lugar, o do devedor.
A origem de quitar, palavra existente em português desde o século 13, é o verbo do latim medieval quitare, uma alteração de quietare, este por sua vez derivado do particípio do latim clássico quiescere, “estar em repouso, estar quieto”.
É um sintoma da anglofilia dos tempos atuais a confusão, não de todo incomum, entre o adjetivo quite e o substantivo inglês kit, que há décadas tem largo emprego entre nós. Já encontrei esse mal-entendido – “estamos kits” – no texto de pessoas de bom nível educacional.
Na língua de Shakespeare, kit, provavelmente um empréstimo do holandês medieval kitte, queria dizer a princípio, como este, “estojo de madeira”. A acepção de conjunto de objetos pessoais surgiu no século 18, e a de coleção de ferramentas, no 19. Segundo o Houaiss, o português passou a usar a palavra com o significado de “jogo de elementos que atendem juntos a um mesmo propósito ou utilidade” nos anos 1950.