Por que se associa a palavra macumba com maldade?
“Olá, tenho uma dúvida em relação à palavra macumba. Sabe-se que foi um instrumento de percussão trazido pelos negros e que é também uma religião afro-brasileira. Mas por que as pessoas associam a palavra com maldade, já que o prefixo ‘ma’ não tem nada a ver com o mal? Obrigado!” (Rafael Martins) A palavra macumba […]
“Olá, tenho uma dúvida em relação à palavra macumba. Sabe-se que foi um instrumento de percussão trazido pelos negros e que é também uma religião afro-brasileira. Mas por que as pessoas associam a palavra com maldade, já que o prefixo ‘ma’ não tem nada a ver com o mal? Obrigado!” (Rafael Martins)
A palavra macumba não designa propriamente “uma religião afro-brasileira”, como diz Rafael, e sim, de forma genérica e pejorativa, um conjunto amplo de “cultos afro-brasileiros originários do nagô e que receberam influências de outras religiões africanas (por exemplo, de Angola e do Congo), e também ameríndias, católicas, espíritas e ocultistas” – nas palavras do Houaiss.
Macumba se refere em especial, segundo observa o mesmo dicionário, a cultos e rituais em que se pratica a chamada magia negra, ou seja, aquela em que “supostos malefícios” são “endereçados a pessoas, animais etc.”. Pode-se encontrar aí a origem da associação que o leitor aponta entre macumba e maldade – reforçada pelo caráter pejorativo que a palavra carrega desde o início, assinalado por Nei Lopes em seu “Dicionário Banto do Brasil”.
Quanto à sua origem, reina certa confusão. Lopes afirma que ela é “de origem banta, mas de étimo controverso”, e cita os estudiosos Antenor Nascentes e Jacques Raymundo entre os que foram buscar sua raiz no quimbundo makumba, plural de dikumba, ou seja, “cadeado, fechadura”. A explicação para isso estaria nas “cerimônias de fechamento de corpos presentes nesses rituais”.
O próprio Lopes aposta no étimo cumba, “feiticeiro”, acrescido do prefixo plural ma. Registra ainda, como possibilidade, o quicongo makumba, plural de kumba, “prodígios, fatos miraculosos”.
O sentido de “antigo instrumento de percussão de origem africana”, espécie de reco-reco, é o primeiro que o Houaiss apresenta no verbete macumba. A riqueza semântica da palavra estaria ligada ao fato de ser tal instrumento “outrora usado em terreiros de cultos afro-brasileiros”.
Para Lopes, porém, trata-se de duas palavras distintas. Macumba, o reco-reco, teria vindo provavelmente do quimbundo mukumbu, “som”.
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