“Prezado Sérgio, nunca perco a sua coluna. Minha dúvida é simples: de onde vem a expressão ‘bode expiatório’?” (Alexandre Thomas)
A expressão cuja origem intriga Alexandre é empregada, como se sabe, para designar aquele que paga pelos pecados de outro, ou seja, expia-os. Nas palavras de Luís da Câmara Cascudo, em “Locuções tradicionais do Brasil”, o bode expiatório é “o grande culpado inocente, responsável pelas culpas alheias, expiando os crimes que não cometeu”.
A expressão tem origem bíblica e penetração em diversas línguas: em inglês fala-se em scapegoat; em francês, em bouc émissaire. Um sinônimo menos usado em português, registrado pelo filólogo Antenor Nascentes no seu “Tesouro da fraseologia brasileira”, é “bode emissário”.
Essa ideia de emissário nos remete à origem da expressão: no Levítico (16, 20-23), livro do Antigo Testamento, fala-se do costume arcaico de, no Yom Kipur, o dia da expiação, lançar sobre a cabeça de um bode vivo “todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todos os seus delitos e pecados”, para em seguida levar o bicho até o deserto e lá abandoná-lo para morrer.
Esse bode, chamado Azazel, era o emissário do ritual de purificação, aquele que era enviado em missão suicida para purgar os pecados de todo um povo.
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