‘Pergunto por causa que não sei’, isso está errado?
“Boa tarde! Sérgio! Gostaria de saber sobre a expressão ‘por causa que’, que ouço as pessoas falarem. Esta maneira de falar é incorreta, não? Atenciosamente.” (Tânia Almeida) “Pergunto por causa que não sei.” A locução “por causa que”, que Tânia suspeita ser incorreta, é uma das expressões informais do português brasileiro que mais servem de […]
“Boa tarde! Sérgio! Gostaria de saber sobre a expressão ‘por causa que’, que ouço as pessoas falarem. Esta maneira de falar é incorreta, não? Atenciosamente.” (Tânia Almeida)
“Pergunto por causa que não sei.” A locução “por causa que”, que Tânia suspeita ser incorreta, é uma das expressões informais do português brasileiro que mais servem de senha para separar os falantes entre cultos e incultos.
Como diz Domingos Paschoal Cegalla em seu “Dicionário de dificuldades da língua portuguesa”, trata-se de “locução corrente na fala popular, mas vetada pelos gramáticos. Os dicionários não a registram. Em linguagem cuidada, diga-se simplesmente porque”.
Se não é exato que os dicionários não registrem “por causa que” (quando o fazem, apontam seu caráter informal, ou seja, seu baixo prestígio social), é indiscutível que “Pergunto porque não sei” é construção mais elegante, que usa menos palavras para dar o mesmo recado de “Pergunto por causa que não sei”. E sempre é possível trocar “por causa que” por “porque”.
Sociolinguistas ficam irritados com tal tipo de reparo normativo. Alegam que o nome disso é preconceito linguístico, uma preferência de base socioeconômica e não “científica”, e têm lá sua razão que vale a pena compreender.
No sentido puramente mecânico da gramática, “por causa que” (que nasceu da locução interrogativa antiga e também prolixa “por causa de que”, registrada pelo Houaiss sem reparo algum) faz sentido, com o desaparecimento da preposição “de” antes do “que” encontrando inúmeros exemplos bem aceitos no discurso culto, especialmente o oral. E por acaso não estaria correto dizer “Pergunto por causa de minha ignorância”? Estaria. É apenas o uso tradicional, cultivado, que condena “por causa que”.
Naturalmente, o “apenas” da frase anterior contém boa dose de ironia. Qualquer falante que tenha meia colher de chá de motivos – profissionais, sociais, românticos etc. – para polir seus modos de expressão oral e escrita deve tomar muito cuidado com o “por causa que”.
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