Palavra, da parábola ao vocábulo
Palavra, o substantivo que está no nome desta coluna, sinônimo de “vocábulo”, tem uma origem ligeiramente tortuosa que vale a pena contar. Seu ancestral mais antigo é um termo grego de retórica, parabolé, que o latim adotou como parabola e que queria dizer “comparação, símile”. O português parábola, que brotou da mesma fonte por via […]
Palavra, o substantivo que está no nome desta coluna, sinônimo de “vocábulo”, tem uma origem ligeiramente tortuosa que vale a pena contar.
Seu ancestral mais antigo é um termo grego de retórica, parabolé, que o latim adotou como parabola e que queria dizer “comparação, símile”. O português parábola, que brotou da mesma fonte por via erudita, conserva tal ideia na acepção de “narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia” (Houaiss).
Mas a palavra “palavra” não nos chegou por via erudita. Palavra é a parabola latina corrompida, solapada, mastigada no som e no sentido pela fala do povo no caldeirão ibérico medieval em que nosso idioma nasceu.
Foi o filólogo catalão Joan Corominas, de quem obviamente gosto muito, que melhor desenhou o percurso da parábola à palavra. Afirma que o termo espanhol palabra – surgido no século XII, enquanto a palavra portuguesa é do XIII – era antigamente parabla e que seu sentido “passou de ‘comparação’ a ‘frase’, acepção muito corrente entre os séculos XII e XIV, e daí a ‘vocábulo’”.
O fenômeno não se restringiu à Pelínsula Ibérica. Outras línguas neolatinas fizeram caminho parecido: da mesma parabola o italiano tirou parola e o francês, parole.