Otimistas, pessimistas e a caixa-preta do futuro
Num momento em que o país define seu rumo político pelos próximos quatro anos, após uma campanha em clima de guerra que deixa a população compreensivelmente dividida entre quem espera grandes realizações e quem prevê tempos sombrios, vale a pena invocar a história das palavras e lembrar que o termo otimismo, hoje popular e até […]
Num momento em que o país define seu rumo político pelos próximos quatro anos, após uma campanha em clima de guerra que deixa a população compreensivelmente dividida entre quem espera grandes realizações e quem prevê tempos sombrios, vale a pena invocar a história das palavras e lembrar que o termo otimismo, hoje popular e até banalizado (“vamos pensar positivo, gente!”), tem em sua origem dois dados surpreendentes: um berço intelectualmente chique e uma infância atormentada pelo bullying de um cara cruel chamado Voltaire.
Filho do latim optimus, superlativo de bom, o termo nasceu no caldeirão dos ricos embates filosóficos do século 18. Cunhado em 1737 em francês (optimisme), era inicialmente um rótulo para o pensamento de Leibniz, que na época andava na moda. Leibniz explicava a existência do mal dizendo que Deus, sendo, mais do que bom, ótimo, só poderia ter criado o melhor dos mundos possíveis. Quer dizer, o mundo não é melhor do que isso porque, paciência, náo tem jeito. Nem para Deus.
O otimismo leibniziano gozava de boa reputação quando foi satirizado e avacalhado para sempre por Voltaire no romance “Cândido”, a história de um cara incuravelmente otimista sobre o qual se abate toda a desgraceira do mundo.
O negócio é prever o pior, então? Nada disso. Em defesa do otimismo pode-se lembrar que até Voltaire, seu grande inimigo, deu mostras daquilo que chamamos por esse nome – a crença num futuro melhor – em seu “Poema sobre o desastre de Lisboa”, de 1756, escrito um ano após o terremoto que arrasou a capital portuguesa e lançou a Europa num buraco de pessimismo.