Os primeiros papas não eram papas
Bento XVI na missa da Quarta-Feira de Cinzas, na Basílica de São Pedro (Alessandro Bianchi/Reuters) A surpreendente renúncia de Bento XVI deu ensejo a uma série de especulações, temores e esperanças mundo afora, dentro e fora da comunidade católica. Entre seus efeitos mais modestos está a eleição de papa como Palavra da Semana. Continua após […]

A surpreendente renúncia de Bento XVI deu ensejo a uma série de especulações, temores e esperanças mundo afora, dentro e fora da comunidade católica. Entre seus efeitos mais modestos está a eleição de papa como Palavra da Semana.
É costumeiro ouvir que São Pedro foi o primeiro papa, mas a veracidade histórica dessa informação depende de uma licença poética.
Nos primeiros séculos da Igreja Católica, em que o bispo de Roma viu seu papel de liderança se acentuar aos poucos, ele ainda não tinha a autoridade de um papa – e muito menos o nome.
“Papa” é uma palavra documentada em português desde o século XIII e nos chegou do latim papa ou pappa. O latim, por sua vez, tinha ido buscar o vocábulo no grego páppas. Em sua língua de origem a palavra provinha da linguagem infantil e era uma forma carinhosa de chamar pais e avôs, posteriormente estendida como termo de respeito a tutores e autoridades religiosas.
Quando passou a ser usado no âmbito do catolicismo, no século III, papa era um termo de aplicação ampla e liberal, distribuído entre bispos e padres. Consta que o primeiro papa a ser chamado assim foi Libério (352-366).
No entanto, segundo o filólogo catalão Joan Corominas, foi apenas no século V que o título passou a ser reservado exclusivamente ao bispo de Roma, também chamado de Sumo Pontífice.
Esse estreitamento semântico ocorreu justamente na época em que se consolidava seu enorme poder. Palavra e coisa estavam em comunhão.