Os famigerados
– Por que você está assim, querida? – Eu? – Você. Com essa cara. – Não tenho outra. – Tá vendo, não falei? O que foi? – Nada. Deixa. – Ah, eu sabia que aí tinha! Você passou o jantar inteiro me olhando torto, mal conversou, não riu de nada que eu falei. Continua após […]
– Por que você está assim, querida?
– Eu?
– Você. Com essa cara.
– Não tenho outra.
– Tá vendo, não falei? O que foi?
– Nada. Deixa.
– Ah, eu sabia que aí tinha! Você passou o jantar inteiro me olhando torto, mal conversou, não riu de nada que eu falei.
– Puxa, e você é tão engraçado, não é? Muito estranho mesmo eu não rir.
– Por que você está querendo brigar? Me diz pelo menos.
– Não estou querendo brigar.
– É, tem razão. Já brigou. Só esqueceu de me dizer o que foi que eu fiz.
– Você vai dizer que não sabe?
– O quê?
– Não sabe mesmo o que você fez…
– Não tenho a menor ideia!
– Não tem lembrança nenhuma de ter elogiado uma certa vagabunda bem na minha frente?
– Hã? Você só pode estar…
– Pensa que eu não sei o que é “famigerada”?
– Espera um pouco!
– “Aquela famigerada da Bárbara”, isso é coisa que se diga?
– Mas… é uma crítica, meu amor!
– Crítica, rá! Pensa que eu sou idiota? E o subtexto, hein? E o olhinho brilhando? E a baba escorrendo?
– Baba? Não teve baba nenhuma!
– Baba metafórica, gênio.
– Oh, céus. Tá bem, meu anjo. Mandei mal, retiro o que eu disse.
– Está arrependido?
– Arrependidíssimo. A Bárbara não tem nada de famigerada. Nadinha, pronto.
– Hmpf.
– Será que agora você pode voltar a sorrir pra mim?
– Talvez. Mais tarde.
– Que tal já?
– Calma.
– Um, dois e…
– Ai, deixa de ser famigerado!