Orçamento: da arte de navegar contra o vento
O orçamento que esteve no centro da tensão da semana entre Executivo e Legislativo – até que a Câmara adiasse para a próxima terça-feira a votação da chamada PEC do Orçamento Impositivo – é uma palavra que não existiria sem o vocabulário náutico. Orçar, verbo do século XVI, veio do italiano orzare e tinha inicialmente […]
O orçamento que esteve no centro da tensão da semana entre Executivo e Legislativo – até que a Câmara adiasse para a próxima terça-feira a votação da chamada PEC do Orçamento Impositivo – é uma palavra que não existiria sem o vocabulário náutico.
Orçar, verbo do século XVI, veio do italiano orzare e tinha inicialmente o sentido de “voltar a proa da embarcação na direção do vento, navegar à bolina, com o vento de viés”. Um sinônimo de bolinar.
Segundo o etimologista Antenor Nascentes, orçar ganhou o sentido de “calcular por alto, estimar” por uma extensão metafórica dos cálculos complexos envolvidos na ação de orçar um navio para navegar contra o vento.
Uma curiosidade adicional é que, como orçar, bolinar também acabou adquirindo, no português brasileiro, uma acepção distante da original e muito mais popular do que ela, neste caso sem relação alguma com o vocabulário econômico: a de “apalpar ou encostar-se a uma outra pessoa com fins libidinosos, geralmente de modo furtivo” (Houaiss).
Mais uma vez cabe a Nascentes esclarecer a operação metafórica envolvida nessa expansão semântica, que ele data de 1892: o bolinador escolhia uma mulher para se sentar ao seu lado, “à espera de vento favorável”. Ou talvez – isso quem acrescenta sou eu – de um vento contrário que pudesse, como na bolina, ser habilmente explorado para levar o barco à frente mesmo assim.