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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

O trilheiro se embrenhou na mata e só o dicionário não viu

Há poucos dias escrevi aqui na coluna, no artigo sobre a expressão “fim da picada”, a seguinte frase: “A acepção trilheira de picada, segundo o Houaiss, leva a data de 1789”. Fiquei esperando as reclamações: afinal, como é possível que, numa coluna sobre a língua portuguesa, o autor lance mão de uma palavra – o […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h35 - Publicado em 18 ago 2013, 10h00

Há poucos dias escrevi aqui na coluna, no artigo sobre a expressão “fim da picada”, a seguinte frase: “A acepção trilheira de picada, segundo o Houaiss, leva a data de 1789”. Fiquei esperando as reclamações: afinal, como é possível que, numa coluna sobre a língua portuguesa, o autor lance mão de uma palavra – o adjetivo “trilheiro” – que nenhum dicionário reconhece? As reclamações não vieram, oba.

Se viessem, eu responderia que não posso me responsabilizar pelos dicionários. Valorosos, eles são também pesados, mexem-se devagar e engolem seus moscardos de vez em quando. A notícia boa é que nenhum falante ou escritor é refém de lexicógrafos. Ninguém precisa virar um neologista de carteirinha, como Guimarães Rosa, para se ver obrigado de vez em quando a trilhar caminhos que os dicionaristas ainda não mapearam.

O termo trilheiro aparece em alguns dicionários (outros preferem “trilheira”) como sinônimo de trilha, é verdade, mas nunca como adjetivo (“relativo a trilha”) nem na já manjada acepção de “motociclista que se especializa em explorar trilhas”. Ora, esses são usos correntes, como atesta o Google, e preenchem uma lacuna expressiva que seria lamentável, por covardia vocabular, tapar com uma solução mais palavrosa.

O senso comum supõe que os dicionários inventem as palavras ou que, no mínimo, sejam os árbitros supremos de sua existência, da qual o falante deveria se certificar antes de se expressar. O que é bem curioso, pois, se fosse assim, como deveríamos proceder com vocábulos – como “incomodação”, reconhecido pelo Vocabulário Ortográfico da Academia, mas não por Houaiss e Aurélio – que existem aqui e não ali? A realidade de uma língua, qualquer língua, tem a configuração oposta: o árbitro supremo é o uso, o modo como as pessoas falam, enquanto os dicionários correm perpetuamente atrás dele.

O informal substantivo “bateção”, muito popular no Brasil – em especial na ótima expressão “bateção de cabeça” –, é outro exemplo de palavra marcada por essa condição peculiar: existe inequivocamente, orgulhosamente, gloriosamente, mas ainda não conseguiu tirar sua certidão de nascimento nos principais cartórios lexicográficos (o Aulete e o Michaelis largaram na frente, palmas para eles). Há muitas outras nesse caso. Seria justo deixá-las morrer à míngua por lhes faltar um carimbo?

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