O rojão, no dicionário, só se move ‘para o alto’
Tanto rojão quanto foguete, nomes do artefato que matou o cinegrafista Santiago Andrade, são palavras que o português foi buscar no espanhol há muito tempo: em meados do século XVI, no caso de rojão, e em torno de um século antes, no caso de foguete. O Houaiss define assim os dois (com a segunda acepção […]

Tanto rojão quanto foguete, nomes do artefato que matou o cinegrafista Santiago Andrade, são palavras que o português foi buscar no espanhol há muito tempo: em meados do século XVI, no caso de rojão, e em torno de um século antes, no caso de foguete.
O Houaiss define assim os dois (com a segunda acepção de rojão remetendo a foguete, como seu sinônimo perfeito): “engenho pirotécnico que consiste em um tubo de papelão carregado com pólvora, no qual, quando se ateia fogo ao pavio situado em sua parte inferior, ocorre a expulsão de gases por combustão, imprimindo um movimento para o alto, onde estoura com grande ruído”.
Só faltou acrescentar que o “movimento para o alto” pressupõe, claro, um lançador imbuído de um mínimo de boa-fé, personagem que Santiago não teve a felicidade de encontrar. A trajetória do rojão depende de quem o aponta.
A palavra rojão é parente próxima do substantivo arrojo, que é mais empregado entre nós (sobretudo sob a forma do adjetivo arrojado) em seu sentido figurado de “audácia, ousadia, coragem”. No entanto, o arrojo também tem na origem a ideia de arremesso, lançamento (de algo) à distância. O verbo castelhano arrojar, datado do século XIII, é filho do latim vulgar rotulare – literalmente, “rodar, girar”, movimento que se faz com o braço quando se deseja atirar algum objeto à maior distância possível.
O caso de foguete é ainda mais surpreendente. À primeira vista, parece apenas um diminutivo de fogo, um foguinho, mas a história é mais complicada. O fogo teve de fato um papel no desenvolvimento da palavra, mas apenas para modificá-la, em decorrência do que a princípio não passava de um mal-entendido – da mesma forma que o substantivo floresta, do francês antigo forest, foi modificado pela ideia de “flor” ou “flora”.
A origem de nosso foguete deve ser buscada no espanhol cohete, este provavelmente oriundo, segundo o filólogo Joan Corominas, do catalão coet – um derivado de coa, “cauda”, em referência ao rastro luminoso que deixa no céu.