O rebu da etimologia
Sophie Charlotte na nova versão de “O rebu” (Reprodução) A palavra “rebu”, uma gíria dos anos 1970, foi reposta na ordem do dia pela nova versão da novela de Bráulio Pedroso, que foi ao ar pela primeira vez entre novembro de 1974 e abril de 1975. Significa “confusão, desordem, briga” – é o que todo […]

A palavra “rebu”, uma gíria dos anos 1970, foi reposta na ordem do dia pela nova versão da novela de Bráulio Pedroso, que foi ao ar pela primeira vez entre novembro de 1974 e abril de 1975. Significa “confusão, desordem, briga” – é o que todo mundo sabe e, para o caso de restar alguma dúvida, é também o que informam os dicionários.
Mais controversa é a origem do termo. Os mesmos dicionários cravam que se trata de uma forma reduzida de rebuliço, substantivo idoso e respeitável – datado do século XV, segundo o Houaiss – que ajudou a engordar a prole do termo latino bullitio, “agitação de fervura”. Será mesmo?
Bem, a própria novela original que espalhou por todo o país uma gíria carioca de alcance até então restrito ajudou a cristalizar esse parentesco. Todo dia, durante as “cenas dos próximos capítulos”, um narrador dizia o seguinte: “”Festa, rebu, rebuliço… crime. O rebu. A vida de cada um. A culpa de todos!”.
Eu confesso que teria ficado plenamente satisfeito com essa explicação se não fosse um toque precioso da vizinha Patrícia Villalba, titular da coluna Quanto Drama! Foi ela quem me alertou para o fato de que a história dessa gíria é um pouco mais complicada – e picante.
O próprio Bráulio Pedroso (1931-1990) deixou um depoimento – reproduzido em sua biografia “Audácia inovadora”, escrita por Renato Sérgio para a coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – em que afirma ter usado, para batizar sua trama policial passada numa festa chique, um “termo que Ibrahim Sued lançava em sua famosa coluna social, uma forma sincopada do palavrão rebuceteio”. Quem vai discutir com o autor?
Tudo indica que o chulo “rebuceteio”, de formação óbvia, ficou ainda mais datado do que rebu, mas mesmo com muito esforço seria difícil esquecer que batizou uma pornochanchada tardia, “Oh! Rebuceteio”, de 1984, dirigida por Claudio Cunha.
Na linguagem do colunista social que a criou – ou que a captou no ar e lhe deu circulação –, a palavra teria o sentido original de “aglomeração de mulheres bonitas”. Ou seja: aquele “rebu, rebuliço” do texto promocional da novela pode ter sido apenas uma forma de driblar a censura, que na época era cascuda.
Etimologia também é o maior rebu.