O que a chave tem a ver com a palavra-chave?
“Meu caro Sérgio, o que a palavra-chave tem a ver com a palavra ‘chave’? Se é que é a mesma palavra, como o objeto que abre portas ganhou esse sentido de coisa importante ou até mesmo fundamental?” (Alexandre Figueira) Bem, justamente por ser um instrumento que abre e fecha portas, capaz de bloquear ou franquear […]

“Meu caro Sérgio, o que a palavra-chave tem a ver com a palavra ‘chave’? Se é que é a mesma palavra, como o objeto que abre portas ganhou esse sentido de coisa importante ou até mesmo fundamental?” (Alexandre Figueira)
Bem, justamente por ser um instrumento que abre e fecha portas, capaz de bloquear ou franquear trânsitos e segredos, a chave, palavra existente em português desde o século XIII, aparecia já no latim latim clássico clavis no papel de símbolo de poder.
O dicionário Saraiva registra expressões latinas como “entregar a chave”, com o sentido de confiar a guarda de algo a alguém, e “tirar as chaves (à mulher)”, isto é, repudiá-la.
Ícone de posse, autoridade e saber, não admira que a chave tenha acabado por adquirir também, entre suas muitas acepções, a de “elemento essencial para o equilíbrio, a firmeza, a eficiência de um sistema, uma organização, uma teoria” (Houaiss). O segredo do sucesso. A solucão dos enigmas e problemas. Aquela peça estratégica sem a qual todas as portas se fecham e nada funciona.
Note-se que, em palavras compostas como “palavra-chave”, “testemunha-chave”, “posto-chave” etc., a palavra “chave” permanece invariável: dizemos “palavras-chave”, “testemunhas-chave” e “postos-chave”. Embora o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras (Volp) admita também “palavras-chaves” e “postos-chaves”, a invariabilidade do segundo elemento é o que se observa no uso corrente e também o que recomendam quase todos os gramáticos – inclusive Evanildo Bechara, homem-chave do Volp, na página 130 de sua “Moderna gramática portuguesa”:
Somente o primeiro elemento varia (…) nos compostos de dois substantivos, onde o segundo exprime a ideia de fim, semelhança, ou limita a significação do primeiro.
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