O massacre e a maça
Massacre é, provavelmente, a primeira palavra de nosso vocabulário que vem à cabeça na hora de nomear a tragédia ocorrida num cinema de subúrbio de Denver, no estado americano do Colorado. Já houve um tempo em que os puristas condenaram o vocábulo, chamando-o de galicismo, ou seja, importação desnecessária do francês, como se houvesse algo […]
Massacre é, provavelmente, a primeira palavra de nosso vocabulário que vem à cabeça na hora de nomear a tragédia ocorrida num cinema de subúrbio de Denver, no estado americano do Colorado.
Já houve um tempo em que os puristas condenaram o vocábulo, chamando-o de galicismo, ou seja, importação desnecessária do francês, como se houvesse algo de intrinsecamente mal nisso. Mas os puristas, que ainda conseguiam fazer algum barulho no início do século 20, perderam todas as batalhas que disputaram: não seria impróprio dizer que foram massacrados pela dinâmica da língua.
Massacre é uma palavra familiar há tanto tempo – ganhou seu primeiro registro em português ainda no século 16 – que soam ridículas as recomendações de que deveríamos substituí-la por formas castiças como morticínio, carnificina e matança.
Curiosamente, massacre não tem nenhuma relação etimológica com massa, embora esta palavra costume aparecer em sua definição: “morte (de pessoa ou animal) provocada com crueldade, especialmente em grande número, em massa” (Houaiss). Trata-se de uma pista falsa. Se trocarmos o ss por ç, porém, o engano se desfaz.
Massa tem origem no latim massa, vindo do grego máza, “o todo, a totalidade”. Já o francês massacre – termo surgido em fins do século 11, inicialmente com a acepção de “açougue” – está ligado ao latim vulgar matteuca ou, em forma dialetal, maciuca, uma palavra derivada de mattea, nome de uma arma arcaica propícia para o ato de massacrar e que consistia num porrete com extremidade grossa e pesada. Aquilo que ficaria conhecido em português como clava ou… maça.