O hotel, o hospital e o hospício
Dizia a notícia de Veja.com na última terça-feira: “O Hotel Saint Peter (foto), em Brasília, contratou o ex-ministro José Dirceu, que cumpre pena no Complexo Penitenciário da Papuda, como gerente administrativo, com salário registrado de 20 000 reais mensais. A carteira de trabalho do petista foi assinada na última sexta-feira”. Logo acrescentava que “na carteira […]

Dizia a notícia de Veja.com na última terça-feira:
“O Hotel Saint Peter (foto), em Brasília, contratou o ex-ministro José Dirceu, que cumpre pena no Complexo Penitenciário da Papuda, como gerente administrativo, com salário registrado de 20 000 reais mensais. A carteira de trabalho do petista foi assinada na última sexta-feira”.
Logo acrescentava que “na carteira de trabalho da atual gerente do hotel, Valéria Linhares, a remuneração para o cargo é bem inferior: 1 800 reais”.
Isso transformou “hotel” em Palavra da Semana por dois motivos. O primeiro é a etimologia naturalmente curiosa desse substantivo, que o português foi buscar no francês hôtel em meados do século XVIII.
O antepassado de hôtel, com seu acento circunflexo como vestígio da letra s que os franceses adoram engolir, era o latim hospitale, “casa para hóspedes” – isto é, para viajantes, para estrangeiros. A mesma palavra de onde tiramos nosso vocábulo hospital.
Se o hospital acabou ganhando o sentido restrito de hospedaria destinada apenas a pessoas doentes, a ideia original latina se manteve viva em palavras como hospitalidade e hospitaleiro. No entanto, a ausência do s mascara seu parentesco com a hotelaria.
O segundo motivo que fez de hotel uma barbada é o fato de que, nessa mesma família de palavras de origem latina, vamos encontrar hospício, de hospitium, “ação de hospedar, hospedaria” – um termo que, como se sabe, é mais conhecido como sinônimo de manicômio, asilo de loucos.