O esperdício não desperdiça letras
“Sempre corrigi minha mãe por falar ‘esperdício’ ou ‘espertar’ (desperdício e despertar), mas já ouvi em outros lugares pessoas falando da mesma forma, e até achei num dicionário tais palavras. Qual é a origem dessas expressões e por que mudaram para a forma atual?” (Stefano Mattei) As formas empregadas pela mãe de Stefano são variantes que […]
“Sempre corrigi minha mãe por falar ‘esperdício’ ou ‘espertar’ (desperdício e despertar), mas já ouvi em outros lugares pessoas falando da mesma forma, e até achei num dicionário tais palavras. Qual é a origem dessas expressões e por que mudaram para a forma atual?” (Stefano Mattei)
As formas empregadas pela mãe de Stefano são variantes que há tempos vêm caindo em desuso, mas de forte lastro vernacular que não nos autoriza a classificá-las como erros. Trata-se simplesmente da alteração do prefixo latino des para es, que ocorre ainda, além dos casos citados, em palavras como escabelar (descabelar), esfazer (desfazer), espedaçar (despedaçar) e esbeiçar (desbeiçar).
Não se pode traçar uma regra geral que permita afirmar que tais expressões “mudaram para a forma atual”, como diz Stefano. O fato de serem variantes em desprestígio não quer dizer necessariamente que sejam anteriores. A datação de desperdiçar (1517) e esperdiçar (1561) sugere o contrário, embora a de despedaçar (século 14) e espedaçar (século 13), não. No quadro geral, parece seguro apostar em formações mais ou menos simultâneas.
A tendência da língua padrão por consagrar as formas em “des” é bastante clara, mas também comporta exceções. O pouco usado verbo desparramar, por exemplo, é uma variante dicionarizada de esparramar.
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