O entusiasmo, ‘inspiração divina’, tem seus limites
O choro de Júlio César e Thiago Silva: entusiasmo puro (William Volcov/Brazil Photo Press) A palavra entusiasmo – existente em nossa língua desde o início do século XVIII e que hoje empregamos com liberalidade para falar dos mais variados tipos de ardor e arrebatamento, até os menos apaixonados e profundos – nasceu de uma ligação […]

A palavra entusiasmo – existente em nossa língua desde o início do século XVIII e que hoje empregamos com liberalidade para falar dos mais variados tipos de ardor e arrebatamento, até os menos apaixonados e profundos – nasceu de uma ligação direta com a esfera divina.
Tudo começou com o adjetivo grego entheos ou enthous, formado a partir de theos, “deus”, o mesmo elemento presente em vocábulos como teologia e ateísmo. Seu sentido era o de “inspirado ou possuído por um deus”.
Enthousiasmós era, a princípio, “transporte divino, exaltação, transe, emoção religiosa intensa que conduz à intuição de verdades místicas”. Ao longo dos séculos, a palavra andou ganhando conotações negativas pela vizinhança com o fanatismo religioso.
Por outro lado, já despida de religiosidade, foi abraçada com gosto por poetas e artistas em geral para nomear o que sentiam ao serem arrebatados pela inspiração.
A seleção brasileira tentou, na Copa que terminou anteontem, substituir o bom futebol pelo puro entusiasmo – não apenas o patriótico, inspirado pelo hino cantado aos berros, mas, num movimento de curioso resgate etimológico, o religioso também. Deu no que deu.