O ‘colored’ do Itamaraty é ofensivo desde os anos 1960
“…tem autoimagem negativa, que pode parcialmente ter origem na sua condição de ‘colored’.” Tendo no papel de sujeito o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, a frase acima consta do relatório do avaliador (não identificado) que entrevistou Joaquim Barbosa para o exame psicotécnico quando, em julho de 1980, o futuro ministro tentou ingressar no Itamaraty. […]
“…tem autoimagem negativa, que pode parcialmente ter origem na sua condição de ‘colored’.”
Tendo no papel de sujeito o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, a frase acima consta do relatório do avaliador (não identificado) que entrevistou Joaquim Barbosa para o exame psicotécnico quando, em julho de 1980, o futuro ministro tentou ingressar no Itamaraty. Veio à luz numa nota da coluna Radar, de Lauro Jardim, na VEJA desta semana, e dá razão à acusação de racismo que Barbosa fez contra a instituição em entrevista ao jornal “O Globo”.
Pode-se discutir se o diagnóstico de “autoimagem negativa” tinha algum fundamento, embora o tom especulativo de sua relação com a cor da pele do examinado (“pode parcialmente ter origem…”) seja mais difícil de defender. O que não tem defesa alguma e acaba sendo o ponto mais eloquente do trecho é a escolha da palavra colored. Velho eufemismo americano (em inglês britânico seria coloured) para “negro”, semelhante ao nosso “de cor”, vale conferir o que dela diz o dicionário Oxford, o melhor da língua de Barack Obama:
A palavra coloured, em referência à cor da pele, teve seu primeiro registro no início do século XVII e foi adotada nos EUA por escravos emancipados como termo de orgulho racial após o fim da Guerra Civil Americana. Na Grã-Bretanha era termo aceito até os anos 1960, quando foi superado (como também nos EUA) por ‘negro’. A palavra coloured caiu em desgraça entre os negros nessa época e hoje é amplamente considerada ofensiva, a não ser em contextos históricos.
Faltou dizer que, nas últimas décadas, o termo black também perdeu terreno para diversas palavras compostas com o elemento “afro-” – mas essa é outra história. O que importa é que, em 1980, já fazia tempo que colored seria considerado inaceitável no texto de um diplomata americano ou inglês. No de um brasileiro era pior: além de ofensivo, culturalmente servil.