No Vaticano, o culpado era o ‘maior domus’
Cena de “Assassinato em Gosford Park”, de Robert Altman Tecnicamente, Paolo Gabriele, o homem acusado de vazar documentos secretos do Vaticano (leia a notícia aqui), não era o mordomo, mas uma espécie de camareiro do papa Bento XVI. Não importa: as funções são suficientemente semelhantes para que se justifique a piada. Continua após a publicidade […]

Tecnicamente, Paolo Gabriele, o homem acusado de vazar documentos secretos do Vaticano (leia a notícia aqui), não era o mordomo, mas uma espécie de camareiro do papa Bento XVI. Não importa: as funções são suficientemente semelhantes para que se justifique a piada.
Como se tornou habitual num daqueles romances policiais ingleses das primeiras décadas do século 20, período que o crítico Howard Haycraft chamou de “era de ouro” do gênero e que tem em Agatha Christie seu grande expoente, o culpado era o mordomo. Exatamente o que ocorre, por exemplo, em “O mistério da casa vermelha”, de A.A. Milne, com sua trama artificial e cheia de furos que o americano Raymond Chandler, um dos expoentes de um tipo muito mais realista de romance policial, dissecou com crueldade cômica no ensaio “A arte simples de matar”.
Além de reforçar um velho clichê literário, o episódio também faz justiça à etimologia da palavra mordomo, que, muito apropriadamente, o português foi buscar ainda no século 13 no latim – língua oficial do Vaticano.
Mordomo tem origem na expressão do latim medieval maior domus, “administrador da casa”. Domus significa “da casa” e maior é uma substantivação do adjetivo major, “maior”, com o sentido de alguém que ocupa posição superior, isto é, de mando numa determinada hierarquia – a mesma palavra que o inglês, após tabelinha com o francês, adotou mais ou menos nessa época como mayor, “prefeito”.