Metaleiros, marqueteiros & brasileiros
Fãs do Metallica no Rock in Rio: metaleiros, nós? (Ivan Pacheco) Leio no “Globo”, a propósito da noite de heavy metal do Rock in Rio, que os metaleiros não gostam de ser chamados de metaleiros. Na verdade, parece, odeiam esse nome. O caso é curiosamente semelhante ao dos profissionais de marketing, que também se ressentem […]

Leio no “Globo”, a propósito da noite de heavy metal do Rock in Rio, que os metaleiros não gostam de ser chamados de metaleiros. Na verdade, parece, odeiam esse nome. O caso é curiosamente semelhante ao dos profissionais de marketing, que também se ressentem há muitos anos da palavra marqueteiro, na qual não se reconhecem.
Em ambos os casos, a queixa é uma só: trata-se de vocábulos pejorativos. O que é verdade, mas só em certa medida. Marqueteiro é um termo que, antes de definir qualquer profissional de marketing, alfineta o ego inflado de profissionais de comunicação transformados em demiurgos da política, e quem vai negar que eles merecem? Metaleiro traduz estranhamento – mas, repare, certa curiosidade também, até carinho – diante de cabeludos que sacodem a cabeça enquanto todo mundo à sua volta fica surdo.
“Eiro”, todo mundo sabe, é um sufixo fuleiro. Tem conotações braçais, não-especializadas, e faz do pianista um pianeiro, do violonista um violeiro. Faz pedreiro, padeiro, sapateiro. Claro que o marqueteiro não quer semelhante companhia: tem curso superior, onde já se viu?
O metaleiro nem sempre é diplomado, mas também rejeita as supostas conotações proletárias da palavra. “Metaleiro é quem trabalha em siderúrgica”, diz o jornalista – e metaleiro – Marcos Bragatto, ouvido pelo jornal carioca, acrescentando que sua preferência se inclina pelo inglês: headbanger é como gostaria de ser chamado.
Naturalmente, é difícil atender a um pedido desses. Por razões diferentes, o nome favorecido por profissionais de marketing – e que vem a ser, justamente, “profissionais de marketing” – também não cola. Um porque é alienígena, o outro porque é longo demais. Para situações como essa, a solução encontrada pela história da língua costuma ser simples: se o nome mordaz pelo qual o chamam é invencível, adote-o com orgulho.
Se deu certo com brasileiro, por que não daria de novo?