Meta fiscal: do cesto sem fundo à peneira
O anúncio da redução da meta fiscal e o assustador estudo que quantifica o desequilíbrio crescente entre gasto público e capacidade de arrecadação no país fazem do adjetivo “fiscal” – relativo a fisco – a Palavra da Semana. A curiosidade é que o português foi buscar, ainda no século XII, a palavra “fisco” no latim […]
O anúncio da redução da meta fiscal e o assustador estudo que quantifica o desequilíbrio crescente entre gasto público e capacidade de arrecadação no país fazem do adjetivo “fiscal” – relativo a fisco – a Palavra da Semana.
A curiosidade é que o português foi buscar, ainda no século XII, a palavra “fisco” no latim clássico fiscus, que o dicionário Saraiva nos ensina ser um termo de origem grega que, antes de significar “tesouro do príncipe, o bolsinho imperial, o fisco”, tinha o sentido prosaico de “paneiro de junco ou vimes”.
Para quem não sabe, “paneiro” é um sinônimo de “cesto” – no caso, um cesto cada vez mais fundo e voraz – e também, significativamente, um parente etimológico de “peneira”.
A carga semântica de fiscus se expandiu daí para “cesta ou saco de guardar dinheiro”, chegando por metonímia, como anota o Houaiss, à acepção de “rendas do príncipe providas pelo erário público (embora o fisco do imperador não fosse, na prática, claramente distinto de sua fortuna pessoal)”.
Tal distinção, no Brasil, não é clara até hoje. O paneiro é uma peneira mesmo.