Memórias da Segunda Guerra: o pracinha e a lurdinha
“Caro Sérgio, duas curiosidades sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial: por que os soldados integrantes da FEB eram denominados ‘pracinhas’ e por que apelidaram metralhadora de ‘lurdinha’? Obrigada.” (Belinda Santos) A primeira dúvida de Belinda tem resposta cristalina. A segunda, embora não seja completamente obscura, avança pelo terreno da lenda. “Pracinha” é […]

“Caro Sérgio, duas curiosidades sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial: por que os soldados integrantes da FEB eram denominados ‘pracinhas’ e por que apelidaram metralhadora de ‘lurdinha’? Obrigada.” (Belinda Santos)
A primeira dúvida de Belinda tem resposta cristalina. A segunda, embora não seja completamente obscura, avança pelo terreno da lenda.
“Pracinha” é um diminutivo carinhoso – cívico, mas carinhoso – de “praça” na acepção já bastante antiga de “soldado”, isto é, “qualquer militar não graduado ou sem posto”, nas palavras do Houaiss. (No Brasil, pode significar também soldado de polícia, o que não vem ao caso aqui.)
Tal sentido de “praça”, por sua vez, nasceu por metonímia da expressão “praça de armas”, local onde as tropas se agrupam – seja para exercício ou revista, seja como concentração anterior a uma manobra ofensiva. Os oficiais não se perfilam na praça de armas; os praças, sim.
Tem a mesma origem a locução “sentar (ou assentar) praça”, que significa “alistar-se no exército”.
Quanto à “lurdinha”… Bem, a explicação do apelido que os pracinhas deram a princípio à temida metralhadora alemã MG42 (forma reduzida de Maschinengewehr 42, na foto acima levada por um soldado alemão), e que mais tarde foi aplicado também a outras metralhadoras, costuma ter duas versões.
Numa delas, um anônimo soldado brasileiro teria comentado que o veloz ritmo de tiro da arma inimiga lembrava a fala de sua ciumenta namorada. Na outra, Lurdinha seria uma costureira, e o barulho feito por sua máquina de costura é que teria sido invocado como comparação. Há quem prefira fundir as duas histórias: Lurdinha seria namorada e costureira.
Nenhuma dessas teses traz consigo, que eu saiba, prova documental ou depoimento em primeira mão. O que, sendo compreensível nas circunstâncias, é também uma pena, por condenar a lurdinha a uma indefinição etimológica que não combina com seu estilo agressivo.