Madrasta, uma palavra que já nasceu torta
Será que madrasta, a palavra, traz de berço as sombras que até hoje a envolvem – e que se traduzem numa acepção figurada e popular como “aquilo de que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho” (Houaiss), como na expressão “sorte madrasta”? Segundo o filólogo brasileiro Antenor Nascentes, sim. Embora o latim […]

Será que madrasta, a palavra, traz de berço as sombras que até hoje a envolvem – e que se traduzem numa acepção figurada e popular como “aquilo de que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho” (Houaiss), como na expressão “sorte madrasta”?
Segundo o filólogo brasileiro Antenor Nascentes, sim. Embora o latim vulgar matrasta, onde fomos buscar a palavra ainda no século XIII, quisesse dizer simplesmente “nova mulher do pai”, Nascentes afirma que o termo era em sua origem um “despectivo” – uma forma depreciativa, ressentida – de mater, “mãe”. Matrasta seria assim, desde a formação do vocábulo, um arremedo grotesco de mater.
Essa imagem ruim é certamente injusta com milhões de madrastas amorosas, mas não lhe deve faltar a sustentação histórica de gerações e gerações de enteadas sofredoras – e não apenas nos contos de fadas. O pioneiro dicionarista Rafael Bluteau registrou no início do século XVIII os seguintes provérbios portugueses: “Madrasta e enteada sempre andam em baralha” (isto é, em conflito, em joguinhos de intrigas); e “Madrasta, o nome lhe basta”.