‘Logo menos’ é uma expressão mais certa que ‘logo mais’?
“Tenho 25 anos, sou de Recife, e sempre ouvi a expressão ‘logo mais’, referindo-se a um tempo próximo. Agora, me deparo, de forma cada vez mais usual, com a expressão ‘logo menos’. Antigamente, usava-se risco de vida e estava errado. Sabe-se, hoje, que o correto é risco de morte. Será que ‘logo menos’ é também […]
“Tenho 25 anos, sou de Recife, e sempre ouvi a expressão ‘logo mais’, referindo-se a um tempo próximo. Agora, me deparo, de forma cada vez mais usual, com a expressão ‘logo menos’. Antigamente, usava-se risco de vida e estava errado. Sabe-se, hoje, que o correto é risco de morte. Será que ‘logo menos’ é também o correto e eu estou parado no tempo?” (Jade Amorim)
A dúvida de Jade chama atenção para um modismo curioso que vem se espalhando velozmente, o da locução adverbial “logo menos”. Mas antes de falar dela, vamos deixar algo claro: a expressão risco de vida não é “errada”, nem se pode dizer que “o correto” seja risco de morte. Como já expliquei aqui na coluna, esse mal-entendido teve origem no furor corretivo de alguns professores de português, que não captaram bem o espírito de “risco de vida”, e ganhou mais difusão do que merecia por ter sido adotado como norma pela TV Globo, entre outros veículos de comunicação. Mas vamos em frente.
O caso de “logo menos” parece diferente, embora também envolva a substituição de uma locução consagrada, “logo mais”, uma velha criação do português brasileiro que significa “mais tarde (mas ainda hoje)”. Não consta que desta vez haja professores de português por trás da novidade, mesmo porque – ao contrário de “risco de morte”, cuja lógica excessivamente literal pode ser defendida – “logo menos”, analisados friamente seus termos, não faz sentido algum.
Ou melhor: até faz, mas apenas em oposição a “logo mais”, ou seja, como algo que ocorrerá antes de “logo mais”, criando uma gradação de futuros próximos. De fato, sua origem provável é a expressão informal “logo mais, logo menos”. Aqui, o par mais/menos dá coerência à frase e se encarrega de indicar uma certa imprecisão de tempo, a mesma que está presente em “mais dia, menos dia”.
O problema é que “logo menos” chega perto de virar uma maluquice quando, isolado da expressão em que nasceu, se lança em carreira solo. Mas não sejamos ranzinzas. Como se trata de uma gíria, uma locução informal utilizada por jovens, está valendo. “Logo menos” deve passar bem longe das redações de vestibular, mas não deixa de ter seu lado lúdico e espirituoso. No entanto, e mesmo sabendo que previsões desse tipo são arriscadas, o fato de ser uma expressão semanticamente desajeitada me leva a duvidar que tenha fôlego para durar mais de dois ou três verões.