Lavagem de dinheiro: da lenda da Lei Seca à denúncia de Janot
Uma tese imaginosa: crime do qual Cunha e Collor são acusados deveria seu nome a lavanderias literais
Lavagem de dinheiro – um dos crimes pelos quais o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ontem o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o senador Fernando Collor de Mello – é uma tradução da expressão inglesa money laundering que começou a circular no Brasil nos anos 1970.
Uma história saborosa, mas provavelmente furada, dá conta de que money laundering surgiu nos EUA na época da Lei Seca (1920-1933), quando o comércio clandestino de bebidas alcoólicas, vendidas dose a dose, fazia girar um grande número de moedas. Como forma de legalizar as montanhas de dinheiro metálico, o crime organizado teria então investido em redes de lavanderias, que também trabalhavam com moedas. Ou seja: money laundering seria uma expressão ao mesmo tempo figurada e literal.
Muito interessante. O que a tese das lavanderias nas mãos de criminosos esconde, como costumam fazer as lendas, é justamente o que a desqualifica: o fato de que o primeiro registro da expressão na imprensa americana só ocorreria décadas mais tarde, em 1961, segundo o dicionário etimológico de Douglas Harper. Como explicar tanta demora? A mesma fonte anota que apenas em 1973, com o escândalo de Watergate, money laundering veio a se tornar uma expressão de uso disseminado.
Tudo indica que a origem da lavagem de dinheiro foi apenas figurada mesmo, ligada à ideia de legalizar – ou seja, limpar – o dinheiro ilegal, isto é, sujo. Em Portugal se diz “branqueamento de capitais”, tradução da expressão francesa blanchiment de capitaux, que tem o mesmo sentido.