Guerra é guerra (e não é bela)
Guerra, isso que ocorre no Rio de Janeiro, é uma palavra que se impôs nas línguas românicas – com a mesma grafia em espanhol e italiano, como guerre em francês – depois de uma guerra lingüística entre o latim clássico bellum, até hoje presente em nosso idioma no adjetivo bélico, e o latim medieval guerra. […]
Guerra, isso que ocorre no Rio de Janeiro, é uma palavra que se impôs nas línguas românicas – com a mesma grafia em espanhol e italiano, como guerre em francês – depois de uma guerra lingüística entre o latim clássico bellum, até hoje presente em nosso idioma no adjetivo bélico, e o latim medieval guerra.
Este guerra foi importado de uma palavra do germânico ocidental, ramo linguístico morto que deu no alemão, no inglês, no holandês e no iídiche, entre outros idiomas: werre. O que não deixa de ser curioso e até mesmo vagamente premonitório, se levarmos em conta o papel-chave que, alguns séculos mais tarde, seria desempenhado pela Alemanha na maior guerra de todos os tempos.
No próprio alemão, guerra é Krieg, mas werre tornou-se a matriz do inglês war e, por intermédio do latim vulgar, da nossa guerra. Uma teoria sobre o que teria levado o latim medieval a recorrer a um vocábulo do germânico para substituir seu bellum lança mão de um interessante argumento estético-moral: é que bellum-guerra seria facilmente confundível com bellum-belo.
E bela, definitivamente, como mais uma vez temos a oportunidade de comprovar, a guerra não é.