Furacão, a fúria do Cão
O furacão Irene, que assombra os EUA, deve seu nome genérico em português ao termo espanhol huracán, o mesmo que está na origem do inglês hurricane, do francês ouragan e do italiano uragano. Huracán, por sua vez, veio do taino, uma língua indígena do Caribe, região rica em furacões. A transformação do f em h […]
O furacão Irene, que assombra os EUA, deve seu nome genérico em português ao termo espanhol huracán, o mesmo que está na origem do inglês hurricane, do francês ouragan e do italiano uragano. Huracán, por sua vez, veio do taino, uma língua indígena do Caribe, região rica em furacões.
A transformação do f em h é comum na passagem do latim para o espanhol, como em facere (fazer), que virou hacer, entre muitos outros casos, e explica em parte a troca inversa, do h pelo f, no caminho entre o espanhol e o português, onde o furacão desembarcou oficialmente em 1678.
No entanto, o Houaiss acredita que a sonoridade com que a palavra acabou por se firmar em português tenha também “um alto grau de motivação expressiva”. O que ele quer dizer com isso? Que se percebe em furacão um eco da expressão “fúria do Cão”, ou seja, do diabo.
Dá-se o nome de etimologia popular a esse terreno, tão divertido quanto nebuloso, em que camadas semânticas induzidas por interpretações criativas ou mesmo por mal-entendidos se incorporam definitivamente às palavras. “Floresta”, por exemplo, termo oriundo do francês antigo forest (hoje forêt) deveria ter virado “foresta”. Na forma que acabaria por vingar, porém, uma preferência popular introduziu o termo “flor”. A flor não tinha, a rigor, nada a ver com isso. Agora tem.