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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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‘Foi difícil para EU fazer isso.’ E agora?

“Bom dia. Agradeço a oportunidade de entrar em contato. Ouço muita gente dizendo: ‘Para mim fazer’. E quando corrijo, dizem que não é errado falar desta forma. E sempre respondo que o correto é dizer: ‘Para eu fazer’, porque ‘mim não faço nada’. Mesmo assim não entendem o sentido… Então gostaria de saber se algo […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 02h24 - Publicado em 30 dez 2014, 10h00

“Bom dia. Agradeço a oportunidade de entrar em contato. Ouço muita gente dizendo: ‘Para mim fazer’. E quando corrijo, dizem que não é errado falar desta forma. E sempre respondo que o correto é dizer: ‘Para eu fazer’, porque ‘mim não faço nada’. Mesmo assim não entendem o sentido… Então gostaria de saber se algo mudou, e o que é correto de verdade. Obrigada.” (Ana Paula Anaya)

Ana Paula está certa. O que é “correto de verdade” na norma culta não mudou: uma construção como “para mim fazer”, em que o pronome é sujeito, sempre foi e continua sendo classificada como erro. Um erro bastante disseminado na linguagem oral, mas erro mesmo assim.

Ocorre que o pronome oblíquo tônico – no caso, “mim” – não pode fazer papel de sujeito, mas apenas de objeto da ação. Para os agentes usa-se o pronome reto – no caso, “eu”. É por isso que dizemos “Ela deixou toda a louça para eu lavar”. (Escrevi mais sobre pronomes retos e oblíquos aqui.)

Até aí, tudo claro, mas a trama não demora a se adensar. Há casos em que, não sendo sujeito o “mim” de “para mim fazer”, a construção não deve ser condenada. Chegaremos lá, mas vamos com calma.

Se ninguém diz “Mim lavo”, por que será que “para mim lavar” é um equívoco tão comum? Porque a presença da preposição “para” antes do pronome cria confusão, levando o falante a uma interpretação sintática torta do que vem a seguir. Ocorre aí uma espécie de fetiche da preposição, compreensível quando levamos em conta que o pronome correto é mesmo “mim” numa frase como “Meus filhos voltaram para mim” – em que “para mim” é objeto indireto do verbo voltar.

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Tudo bem, mas o solo fica mais escorregadio quando, para fugir da armadilha representada pelo fetiche da preposição, muita gente boa cai no erro oposto: o de tratar o pronome pessoal como sujeito toda vez que ele surge entre a preposição “para” e um verbo no infinitivo, em construções um pouquinho mais complexas.

Quando dizemos, por exemplo, “Para mim, fazer isso é covardia”, não cometemos erro nenhum. Neste caso “mim” não está escalado no papel de sujeito do verbo fazer, que é impessoal: na verdade, “fazer isso” é que é sujeito (oracional) do verbo ser. “Para mim” é apenas adjunto adverbial, um termo acessório com o sentido de “em minha opinião”.

Subindo um degrau na escala de dificuldade, vemos que a confusão acomete até professores de português como os que estão por trás de uma página da Wikipedia – aqui – em que se declara correta uma frase como “Foi difícil para eu fazer isso” e se condena “Foi difícil para mim fazer isso”. Errado. Faltou caprichar na análise sintática.

Como na construção “Para mim, fazer isso é covardia”, o pronome pessoal de “Foi difícil para mim fazer isso” não é sujeito de nada. Invertendo os termos, temos “Fazer isso (sujeito) foi (verbo) difícil (predicativo) para mim (complemento nominal)”. Ou alguém diria “Fazer isso foi difícil para eu?”

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A questão tem suas dificuldades, como se vê. No entanto, desmontando e remontando as frases, eliminamos os fetiches – e os antifetiches – que criam confusão. Descobrimos então que o ouvido continua sendo bom juiz.

*

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Publicado em 4/9/2014.

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