Relâmpago: Revista em Casa por R$ 9,90
Imagem Blog

Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

‘Foi difícil para EU fazer isso.’ E agora?

“Bom dia. Agradeço a oportunidade de entrar em contato. Ouço muita gente dizendo: ‘Para mim fazer’. E quando corrijo, dizem que não é errado falar desta forma. E sempre respondo que o correto é dizer: ‘Para eu fazer’, porque ‘mim não faço nada’. Mesmo assim não entendem o sentido… Então gostaria de saber se algo […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 03h09 - Publicado em 4 set 2014, 15h49

“Bom dia. Agradeço a oportunidade de entrar em contato. Ouço muita gente dizendo: ‘Para mim fazer’. E quando corrijo, dizem que não é errado falar desta forma. E sempre respondo que o correto é dizer: ‘Para eu fazer’, porque ‘mim não faço nada’. Mesmo assim não entendem o sentido… Então gostaria de saber se algo mudou, e o que é correto de verdade. Obrigada.” (Ana Paula Anaya)

Ana Paula está certa. O que é “correto de verdade” na norma culta não mudou: uma construção como “para mim fazer”, em que o pronome é sujeito, sempre foi e continua sendo classificada como erro. Um erro bastante disseminado na linguagem oral, mas erro mesmo assim.

Ocorre que o pronome oblíquo tônico – no caso, “mim” – não pode fazer papel de sujeito, mas apenas de objeto da ação. Para os agentes usa-se o pronome reto – no caso, “eu”. É por isso que dizemos “Ela deixou toda a louça para eu lavar”. (Escrevi mais sobre pronomes retos e oblíquos aqui.)

Até aí, tudo claro, mas a trama não demora a se adensar. Há casos em que, não sendo sujeito o “mim” de “para mim fazer”, a construção não deve ser condenada. Chegaremos lá, mas vamos com calma.

Se ninguém diz “Mim lavo”, por que será que “para mim lavar” é um equívoco tão comum? Porque a presença da preposição “para” antes do pronome cria confusão, levando o falante a uma interpretação sintática torta do que vem a seguir. Ocorre aí uma espécie de fetiche da preposição, compreensível quando levamos em conta que o pronome correto é mesmo “mim” numa frase como “Meus filhos voltaram para mim” – em que “para mim” é objeto indireto do verbo voltar.

Continua após a publicidade

Tudo bem, mas o solo fica mais escorregadio quando, para fugir da armadilha representada pelo fetiche da preposição, muita gente boa cai no erro oposto: o de tratar o pronome pessoal como sujeito toda vez que ele surge entre a preposição “para” e um verbo no infinitivo, em construções um pouquinho mais complexas.

Quando dizemos, por exemplo, “Para mim, fazer isso é covardia”, não cometemos erro nenhum. Neste caso “mim” não está escalado no papel de sujeito do verbo fazer, que é impessoal: na verdade, “fazer isso” é que é sujeito (oracional) do verbo ser. “Para mim” é apenas adjunto adverbial, um termo acessório com o sentido de “em minha opinião”.

Subindo um degrau na escala de dificuldade, vemos que a confusão acomete até professores de português como os que estão por trás de uma página da Wikipedia – aqui – em que se declara correta uma frase como “Foi difícil para eu fazer isso” e se condena “Foi difícil para mim fazer isso”. Errado. Faltou caprichar na análise sintática.

Continua após a publicidade

Como na construção “Para mim, fazer isso é covardia”, o pronome pessoal de “Foi difícil para mim fazer isso” não é sujeito de nada. Invertendo os termos, temos “Fazer isso (sujeito) foi (verbo) difícil (predicativo) para mim (complemento nominal)”. Ou alguém diria “Fazer isso foi difícil para eu?”

A questão tem suas dificuldades, como se vê. No entanto, desmontando e remontando as frases, eliminamos os fetiches – e os antifetiches – que criam confusão. Descobrimos então que o ouvido continua sendo bom juiz.

*

Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas, quartas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail: sobrepalavras@todoprosa.com.br (favor escrever “Consultório” no campo de assunto).

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 32,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.