Existe o verbo ‘oportunizar’?
“Gostaria de saber se existe o verbo ‘oportunizar’. No dicionário Aurélio, versão digital, não o encontrei. Obrigado.” (Wilton Gelonezze) Embora apareça, sim, na mais recente edição do Aurélio, o verbo que intriga Wilton, “oportunizar”, não consta do Houaiss, do Michaelis ou do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), além de ser uma lacuna no dicionário […]
“Gostaria de saber se existe o verbo ‘oportunizar’. No dicionário Aurélio, versão digital, não o encontrei. Obrigado.” (Wilton Gelonezze)
Embora apareça, sim, na mais recente edição do Aurélio, o verbo que intriga Wilton, “oportunizar”, não consta do Houaiss, do Michaelis ou do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), além de ser uma lacuna no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Devemos concluir então que o Aurélio se enganou e “oportunizar” não existe?
Não tão depressa. Em uma das questões de português do último Enem, lá estava ele – não entre as respostas, mas na própria pergunta, e não como palavra questionável, mas como parte natural da formulação. A imprensa também vem adotando “oportunizar” há anos. Desde 2002 o verbo merece registro no “Dicionário de Usos do Português do Brasil”, de Francisco S. Borba.
O dicionário lusitano Priberam também o reconhece, embora, curiosamente, seja um tanto impreciso em sua definição: “tornar oportuno”. Está certo que a palavra seja formada por oportuno + -izar, mas semanticamente ela não equivale a “tornar apropriado ou conveniente”. Como demonstram os próprios exemplos colhidos pelo lexicógrafo na imprensa portuguesa (“A proposta é oportunizar aos alunos uma saída…”, para citar o primeiro deles), o sentido de oportunizar é “propiciar, proporcionar uma oportunidade de, oferecer”.
Isso quer dizer que “oportunizar” existe? Sem dúvida alguma. Daí a recomendar seu uso vai uma distância. A existência que tem esse verbo ainda é a de uma palavra de formação recente, meio bárbara, desprovida de lastro culto. Seu sinônimo “propiciar” ganha de 7 a 1 a partida da elegância e mesmo, dependendo do contexto, a da correção pura e simples. Apesar de tudo, existência não é atributo que se negue àquilo que, gostemos ou não, existe.
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