Existe diferença entre ‘construção’ e ‘construto’?
“Aquilo que nós construímos é uma construção ou um construto/constructo? Em engenharia genética é comum o corte da molécula de DNA em pedaços que podem ser ligados a outros pedaços com o auxílio de enzimas. Essa nova molécula formada é conhecida, em inglês, como ‘DNA construct’ e, em português, é ora traduzida como ‘constructo ou […]
“Aquilo que nós construímos é uma construção ou um construto/constructo? Em engenharia genética é comum o corte da molécula de DNA em pedaços que podem ser ligados a outros pedaços com o auxílio de enzimas. Essa nova molécula formada é conhecida, em inglês, como ‘DNA construct’ e, em português, é ora traduzida como ‘constructo ou construto de DNA’, ora como ‘construção de DNA’. Existe diferença entre essas palavras ou são sinônimas e podem ser utilizadas indistintamente? Sempre achei que construção seria o correto, constructo/construto me soando como erro de tradução. Obrigada.” (Giselle Gomes)
Não seria justo chamar o substantivo “constructo” (ou “construto”, variante mais usada no Brasil) de erro de tradução. De tradução preguiçosa, em sua origem, provavelmente sim, mas hoje a palavra tem um nicho semântico assegurado como sinônimo de “construção mental, conceito”.
Trata-se de termo recente – datado do século XX, segundo informa imprecisamente o Houaiss – que importamos do inglês construct. Como este deriva do latim constructus, particípio passado de construere, pode-se argumentar que a palavra se sente em casa numa língua românica como a nossa.
O fato é que “constru(c)to” é, sim, um sinônimo de construção (do latim constructionis), como suspeita Giselle. Vocábulo existente em português desde o século XVI, “construção” tem preferência acachapante na linguagem comum e carrega sentido mais amplo, é claro: pode nomear tanto o resultado do processo de construir, caso em que equivale ao emergente “constru(c)to”, quanto o processo em si.
Tendo origem ou não numa tradução preguiçosa do inglês, o fato é que “constru(c)to” é um termo já dicionarizado que goza de prestígio em discursos especializados – em alguns casos por pernosticismo, sem dúvida, mas em outros pela necessidade legítima de expressar um sentido tecnicamente preciso, como ocorre no vocabulário da psicologia e da filosofia.
Confesso não ter elementos para julgar em que escaninho – pernosticismo ou especialização – se enquadra o “constru(c)to de DNA” mencionado por Giselle. Será que a palavra é mais funcional do que “construção” em tal contexto? O certo é que passa longe da ideia de “construção mental” que os dicionários já reconhecem.
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