Etimologia imaginária (1): o diabo a quatro
O Diabo A-1 em ‘South Park’ Dizem que Lúcifer, CEO da Hell Corporation, também conhecido nos corredores sulfurosos de sua companhia como Diabão, começou a se incomodar com a política de contratações da empresa, que todo dia punha para dentro uma multidão de novos funcionários sem que ele tivesse controle sobre tantos currículos. Eram demônios […]

Dizem que Lúcifer, CEO da Hell Corporation, também conhecido nos corredores sulfurosos de sua companhia como Diabão, começou a se incomodar com a política de contratações da empresa, que todo dia punha para dentro uma multidão de novos funcionários sem que ele tivesse controle sobre tantos currículos. Eram demônios de infinitas classes, de assassinos com variados números de vítimas no currículo a meros espíritos-de-porco, de religiosos cafajestes a políticos famosos – o caos. Havia gente superqualificada em funções burocráticas e gente fraquíssima, canalhinhas de ocasião, à frente de departamentos inteiros. Por mais que isso obedecesse a um saudável critério de injustiça, era ruim para a produtividade.
– Que confusão paradisíaca! – deu para rosnar o mega-executivo do Mal.
Até que, certa manhã horrenda, ao acordar de um pesadelo com anjinhos rosados em sua suíte de magma no último andar do subsolo da Hell, Lúcifer abriu a janela e gritou um “basta!” que provocou três enchentes, sete secas e dezoito naufrágios aqui na superfície – tudo culpa do aquecimento global, disseram os meteorologistas, invocando sem saber uma das marcas de fantasia do Cão. Decidido a organizar de vez o furdunço, a primeira medida de Lúcifer foi convocar à sua sala o gerente de Recursos Desumanos, Damien.
– Quero um plano de carreira. Pra ontem.
– Não creio que um plano de carreira seja prioritário neste momento. Afinal… – disse Damien, mas não terminou. Sua cabeça começou a pegar fogo, com a previsão de apagar em quinhentos anos, e um novo gerente de Recursos Desumanos foi empossado em segundos. Era Asmodeuzinho, jovem e ambicioso.
– Quero um plano de carreira – repetiu Lúcifer. – Pra ontem.
Asmodeuzinho deu a resposta certa:
– Um plano de carreira, claro. Brilhante idéia. Ontem mesmo estará pronto.
E cumpriu a promessa. Quando chegou ontem, Asmodeuzinho entrou na sala do chefe carregando uma pilha de transparências roxas em suas patinhas manicuradas.
– Bolei um código alfa-numérico – explicou.
O resto é história. O Diabo A-1 ficou sendo, naturalmente, o próprio comandante supremo da Hell Corporation. Os níveis A-2 e A-3 foram ocupados por seus auxiliares diretos nas profundezas – além do próprio Asmodeuzinho, incluem-se nessa categoria Adolfo, o ministro das Relações Étnicas, Benitão, chefe dos bufões, e Zé Stalinho, encarregado do Departamento de Geleiras.
O nível seguinte na hierarquia, A-4, foi reservado aos mais graduados funcionários da Hell na superfície da Terra. Gente viva, ou melhor, muito viva. Vem daí a popular mas incompreendida expressão, que por ignorância é grafada como “diabo a quatro” e usada para qualificar situações que nem de longe têm a participação de um verdadeiro Diabo A-4.