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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

‘Estamos quites’ ou ‘estamos kits’?

“Caro Sérgio, recebi de uma amiga um e-mail que dizia: ‘Agora estamos kits’. Como temos intimidade, observei que o certo é ‘agora estamos quites’. Ela respondeu que tanto faz, uma vez que estava usando a palavra em inglês e eu estava usando a palavra aportuguesada. É isso mesmo? Quite vem de kit?” (Maria Aparecida Borges) […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h16 - Publicado em 3 out 2013, 15h34

“Caro Sérgio, recebi de uma amiga um e-mail que dizia: ‘Agora estamos kits’. Como temos intimidade, observei que o certo é ‘agora estamos quites’. Ela respondeu que tanto faz, uma vez que estava usando a palavra em inglês e eu estava usando a palavra aportuguesada. É isso mesmo? Quite vem de kit?” (Maria Aparecida Borges)

Não, a amiga de Maria Aparecida está enganada. Seu erro, porém, é comum até no texto de pessoas esclarecidas, a julgar pelo número de vezes que topei com ele por aí. Vamos examinar rapidamente a origem de cada palavra.

Quite é o particípio irregular do verbo quitar. Significa quitado, isto é, “livre de dívida, de obrigação” e ainda “que se satisfez” e “empatado, igualado”. Quitar existe em português desde o século XIII e deriva, por meio do latim medieval quitare, do latim clássico quietare, ou seja, “aquietar”.

Até hoje é perceptível a ligação entre uma ideia e a outra: quem quita uma dívida – isto é, salda um compromisso, remite uma obrigação – livra-se de uma aflição e portanto se aquieta, sossega, além de no mesmo ato sossegar o credor. Quando se diz “estamos quites (um com o outro)”, a mensagem é: “Não devo mais nada a você, nem você a mim”.

A ideia de livrar(-se) de uma obrigação, de um laço, de um constrangimento, fez com que o verbo quitar adquirisse também a acepção – pouco usada – de “esquivar-se de, apartar-se de”. Essa noção se mantém presente com mais força no francês quitter (“abandonar”) e no inglês to quit (“desistir, largar”), todos da mesma família latina.

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Kit, por sua vez, não tem nada a ver com isso. Palavrinha inglesa não aportuguesada, mas de grande circulação entre nós há meia dúzia de décadas, carrega o sentido de “jogo de elementos que atendem juntos a um mesmo propósito ou utilidade”, nas palavras do Houaiss, que data dos anos 1950 sua adoção em nosso vocabulário.

Essa acepção se desenvolveu por metonímia a partir do núcleo semântico original, que era mais prosaico: provavelmente tomado do holandês medieval kitte (“estojo de madeira”) em fins do século XIII, segundo o dicionário de Douglas Harper, kit ganhou o sentido de conjunto de objetos pessoais no século XVIII e o de coleção de ferramentas no XIX.

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