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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Está certo falar em ‘década de 1970’?

“Aprecio muito sua coluna, sempre muito informativa e esclarecedora. Minha dúvida é a seguinte: com a mudança do século, passamos a falar, por exemplo, ‘década de 1970’ e não apenas ‘década de 70’. Entendo que com o passar dos anos ficaria complicado falar apenas ‘década tal’ porque poderia confundir com o século. No entanto, no […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 12h53 - Publicado em 10 fev 2011, 12h55

“Aprecio muito sua coluna, sempre muito informativa e esclarecedora. Minha dúvida é a seguinte: com a mudança do século, passamos a falar, por exemplo, ‘década de 1970’ e não apenas ‘década de 70’. Entendo que com o passar dos anos ficaria complicado falar apenas ‘década tal’ porque poderia confundir com o século. No entanto, no meu entender, década corresponde a um período de 10 anos. Então não seria mais apropriado falar ‘nos anos de 1970’, por exemplo? Um abraço.” (Luis Cesar Voytena)

É perspicaz a observação de Luis Cesar: com a chegada de um novo século, surgiu a necessidade – que aparentemente não ocorria a ninguém enquanto transcorria o século 20, como se ele fosse eterno – de situar de forma historicamente mais precisa as décadas, para evitar mal-entendidos.

Tal necessidade tem uma base ancestral, claro: anos, décadas e séculos não são uma invenção moderna. No entanto, é legítimo supor que, em contraste com a imemorial importância de anos e séculos como marcadores de tempo, a grande popularidade das décadas como medida histórica é recente, começando a crescer no século 19 e se consolidando a partir de meados do século 20, quando a cultura de massa e tudo o que ela envolve – moda, consumo, “cultura jovem” – consagrou-as como rubricas pop capazes de conjurar imediatamente uma atmosfera específica de comportamento, roupas, canções, gírias, design. Antigamente, essas coisas mudavam mais devagar.

Mas tudo isso é preâmbulo. Vamos à consulta do leitor: seria impróprio escrever “década de 1970”, devendo-se preferir “anos 1970”? Não creio. Ambas as formas são usadas e igualmente corretas. É claro que uma década designa um período de dez anos, mas isso não nos impede de empregar a série numeral completa. Se podemos falar, por exemplo, no ano de 1974 – e todo mundo entende que nos referimos a um ano e não a um século ou a um milênio – é igualmente legítimo falar em “década de 1970”.

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Resta, assim, apenas a velha discrepância entre o rigor matemático e a percepção popular sobre décadas e séculos. Segundo aquele, a década de 1970 (para ficar no exemplo escolhido por Luis Cesar) compreende o período que vai do primeiro dia de 1971 ao último dia de 1980, do mesmo modo que o século 20 foi de 1901 a 2000. O senso comum, porém, repele essa ideia, preferindo se guiar pelos marcadores de dezenas, centenas e milhares – daí a grande festa do milênio ter se dado em todo o mundo entre 1999 e 2000, e não um ano depois. Daí também a percepção generalizada de que a década de 1970 começou, ora, em 1970, terminando em 31 de dezembro de 1979.

Quem quiser evitar essa controvérsia pode, aí sim, optar pela fórmula “anos 70” (ou 1970), suficientemente flexível para driblar a ortodoxia do calendário.

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