Espionagem por quê? Porque espiar é para amadores
Dilma e Obama na Rússia (Grigory Dukor/Reuters) O substantivo “espionagem” se lançou como candidato a Palavra da Semana no domingo à noite, quando o “Fantástico”, da TV Globo, veiculou reportagem afirmando que comunicações da presidente Dilma Rousseff com sua equipe tinham sido interceptadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA. E garantiu a vitória […]

O substantivo “espionagem” se lançou como candidato a Palavra da Semana no domingo à noite, quando o “Fantástico”, da TV Globo, veiculou reportagem afirmando que comunicações da presidente Dilma Rousseff com sua equipe tinham sido interceptadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA. E garantiu a vitória hoje, quando Dilma declarou, referindo-se ao encontro de ontem com Barack Obama em São Petersburgo, na Rússia, que o presidente americano “assumiu responsabilidade direta e pessoal pela investigação das denúncias de espionagem” e prometeu dar uma resposta ao governo brasileiro até a próxima quarta-feira.
O verbo espionar e o substantivo espionagem são alguns dos mais jovens membros de uma família de palavras descendente da raiz indo-europeia spec, “olhar”, que deu frutos em muitas línguas. Os termos latinos speculum (do qual tiramos “espelho”) e spectator (“espectador”) são dois dos que conservam clara a sua presença.
Não passa pelo latim, porém, a ascendência de nossa espionagem, e sim por algum dos vocábulos que aquele spec primitivo gerou nas línguas germânicas – talvez o gótico spáhiôn, ou quem sabe o alto-alemão antigo spehon (“vigiar, observar atentamente”) – e por meio delas no francês.
Segundo a datação do Houaiss, nosso verbo espiar ganhou seu primeiro registro no século XV – provavelmente por influência do francês antigo espier (hoje épier), palavra do século XII – enquanto o substantivo espião, vindo diretamente do francês espion ou após tabela com o italiano spione, data de 1596.
Já o verbo espionar e o substantivo espionagem, que são os que nos interessam aqui, são certamente calcados no francês espionner, palavra de 1482, e tiveram que esperar até o século XIX para estrear no português. Por que toda essa demora, tanto lá quanto aqui? Porque só aos poucos a especialização do espião, se assim podemos chamá-la, criou a necessidade de um nome específico para sua ação. Se o ato de espiar gerou o espião, o espião gerou o ato de espionar.
Porque, convenhamos, espiar é para amadores.