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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Era uma vez um povo sem linguagem

A origem da linguagem? Não passa de uma lenda. Ou de muitas lendas. Por exemplo, tem aquela do povo neolítico que, sendo inteiramente desprovido de linguagem, mitologia, crença ou qualquer migalha de sentido, decidiu fabricar do nada toda uma cosmogonia. Os mais atirados entre eles puseram-se então a trabalhar noite após noite, consumindo paióis de […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 08h20 - Publicado em 22 jul 2012, 10h00

pintura-rupestre-patag%c3%b4niaA origem da linguagem? Não passa de uma lenda. Ou de muitas lendas.

Por exemplo, tem aquela do povo neolítico que, sendo inteiramente desprovido de linguagem, mitologia, crença ou qualquer migalha de sentido, decidiu fabricar do nada toda uma cosmogonia. Os mais atirados entre eles puseram-se então a trabalhar noite após noite, consumindo paióis de velas, tonéis de tinta e galões de aguardante. Derramaram sangue a rodo, rios de riso e de lágrimas.

Um dia, terminado o serviço, organizou-se um grande festival na praça para que as histórias que dariam sentido ao povo fossem recitadas, uma após a outra, ao som de tambores e liras, para deleite de todos – de crianças de colo a velhos moribundos.

A sessão começou num clima de incomparável excitação. Quando a terceira história ia pelo meio, porém, as trevas já haviam engolfado com seu silêncio mortal a plateia, que tiritava de frio.

Todos tinham compreendido claramente seu fracasso. Aquela linguagem não pulsava, aquela mitologia estava morta.

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Só lhes restava segui-las.

*

Mas não, claro que esse não pode ser um mito de fundação da linguagem por uma razão simples: aquele povo sem mitologia não vingou. Fracassou, pereceu. A menos que…

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A menos que se imagine um sobrevivente. Uma criança. Terminado o festival, ela se desvencilhou dos braços mortos de sua mãe e, saltando sobre cadáveres, fugiu em prantos daquele cenário macabro para dedicar a vida a contar sua história triste, tristíssima.

De aldeia em aldeia, onde quer que chegasse, o trágico contador comovia plateias cada vez mais numerosas, cada vez mais enfeitiçadas pela lenda de um povo que, sendo inteiramente desprovido de linguagem, mitologia, crença ou qualquer migalha de sentido, decidiu fabricar do nada toda uma cosmogonia.

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