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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Entra Poeta, sai poetisa

Uma mudança profunda vem ocorrendo há tempos com a palavra poeta, eleita o destaque desta semana em homenagem ao sobrenome de Patrícia, novo e bonito rosto do “Jornal Nacional”. Existente em português desde o século 14 – derivado do latim poeta, que tinha vindo por sua vez do grego poietes (“autor, criador”) –, poeta nasceu […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 10h00 - Publicado em 3 dez 2011, 12h38

Uma mudança profunda vem ocorrendo há tempos com a palavra poeta, eleita o destaque desta semana em homenagem ao sobrenome de Patrícia, novo e bonito rosto do “Jornal Nacional”. Existente em português desde o século 14 – derivado do latim poeta, que tinha vindo por sua vez do grego poietes (“autor, criador”) –, poeta nasceu como substantivo masculino e manteve essa condição por séculos a fio. Ainda hoje aparece assim nos dicionários: para designar uma mulher que escreva versos, diz a tradição, deve-se usar o termo poetisa.

Acontece que a língua real não se conforma com isso há muitas décadas. Tanto no Brasil quanto em Portugal, o uso tem puxado a palavra poeta para um lugar unissex, isto é, de substantivo de dois gêneros. Um lugar em que se plantou de modo tão sólido que admira não ter sido consagrado por gramáticos e dicionaristas. Deve ser só uma questão de tempo – e de bom senso.

A compreensão cada vez mais disseminada de “poetisa” como termo pejorativo, ou pelo menos de conotações condescendentes, caminhou ao lado dos avanços do feminismo no século 20. Poetas do sexo feminino que jogavam de igual para igual com os homens o jogo das letras passaram a rejeitar a distinção de gênero.

Isso se deu em pelo menos duas etapas. Na primeira, o impulso parece ter sido na direção do masculino como gênero neutro, como se o eu lírico não tivesse sexo: “Não sou alegre nem sou triste: sou poeta”, escreveu Cecília Meirelles (1901-1964) no poema Motivo, o mesmo em que se declara “irmão das coisas fugidias”. Uma geração depois de Cecília, a portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) completava o percurso, reivindicando abertamente para a palavra o gênero feminino. Hoje em dia é raro encontrar uma poeta de verdade que se apresente como poetisa. O vocábulo ainda se sustenta com as credenciais de “correto” em certos círculos, mas está claramente em declínio.

É curioso notar que, embora sejam semelhantes os impulsos de emancipação feminina a que respondem, a palavra poeta aspire à indiferenciação enquanto a palavra presidente busque na fala de muita gente, inclusive da própria presidente Dilma, o caminho contrário.

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