Embalsamando Chávez
“O presidente venezuelano Hugo Chávez será embalsamado e ficará em uma urna de cristal para que possa ser visto pelos venezuelanos, disse nesta quinta-feira o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro.” Ao ler a notícia, aqui, soube de imediato que tinha encontrado a Palavra da Semana: embalsamar. Da semana? E por que não a palavra […]

“O presidente venezuelano Hugo Chávez será embalsamado e ficará em uma urna de cristal para que possa ser visto pelos venezuelanos, disse nesta quinta-feira o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro.” Ao ler a notícia, aqui, soube de imediato que tinha encontrado a Palavra da Semana: embalsamar. Da semana? E por que não a palavra dos séculos, dos milênios? Embalsamadores odeiam a tirania do tempo.
É ancestral o inconformismo de nossa espécie com os processos de decomposição – e, no plano simbólico, de esquecimento, superação – provocados pela morte. Os faraós mumificados no antigo Egito atestam, porém, que a lúgubre preservação do corpo nunca esteve ao acesso de pessoas comuns. Sempre foi um privilégio reservado aos poucos que supunham ter recebido diretamente dos deuses o direito à exceção da imortalidade.
A raiz da palavra pode ser encontrada na palavra grega bálsamon, que nos chegou por meio do latim balsamum e que se referia a um ou mais tipos de planta (as espécies botânicas que hoje levam esse nome são muitas e variadas) com propriedades aromáticas e medicinais, bem como ao óleo que delas se extraía. Esta última acepção é registrada assim pelo Houaiss, no verbete bálsamo: “substância aromática exsudada por muitas plantas, espontaneamente ou por ferimento, composta de resinas, óleos essenciais, ácido benzóico, cinâmico e seus ésteres; muito usada em perfumaria e farmácia”.
Foi ao bálsamo da antiguidade, até então um benefício reservado aos vivos e destinado à cura de moléstias ou à simples perfumaria, que o francês recorreu para criar no século XII o verbo enbasmer, que tinha um sentido diferente: “tratar um cadáver com substâncias balsâmicas, antissépticas etc., para impedir que se decomponha” (Trésor de la Langue Française). Cinco séculos mais tarde, a grafia já era a do francês moderno, embaumer, palavra onde fomos buscar nosso verbo embalsamar, com a restituição do L do latim balsamum.