‘Eles estão quite’ ou ‘eles estão quites’?
“Sr. Sérgio, bom dia. Me foi participada uma dúvida e gostaria de saber se você pode ajudar. No texto abaixo, qual seria a expressão correta da palavra ‘quite’, de quitar, dar quitação: ‘Só terão direito a voto os condôminos QUITE com suas contribuições condominiais.’ Grata por sua colaboração e ajuda.” (Gilda Gato) A palavra “quite” […]

“Sr. Sérgio, bom dia. Me foi participada uma dúvida e gostaria de saber se você pode ajudar. No texto abaixo, qual seria a expressão correta da palavra ‘quite’, de quitar, dar quitação:
‘Só terão direito a voto os condôminos QUITE com suas contribuições condominiais.’
Grata por sua colaboração e ajuda.” (Gilda Gato)
A palavra “quite” é um adjetivo nascido como particípio irregular do verbo “quitar”. Não sofre flexão de gênero, ou seja, permanece invariável qualquer que seja o sexo do indivíduo a que se refere: dizemos que João está quite e que Maria também está quite. A flexão de número, porém, é obrigatória: João e Maria estão quites.
Assim, a frase trazida por Gilda deve ser corrigida com o acréscimo de um s: “Só terão direito a voto os condôminos quites com suas contribuições condominiais”.
É curioso que uma dúvida como essa possa existir, uma vez que o adjetivo sempre acompanha o substantivo modificado por ele na passagem do singular para o plural. Mas “quite” parece ser uma palavra afeita a mal-entendidos, como se vê pela confusão que algumas pessoas fazem entre ela e o substantivo de origem inglesa kit, que não tem nada a ver com isso. Tratei do assunto ano passado, aqui.
Como expliquei então, quite significa quitado, isto é, “livre de dívida, de obrigação” e ainda “que se satisfez” e “empatado, igualado”. O verbo “quitar” existe em português desde o século XIII e deriva, por meio do latim medieval quitare, do latim clássico quietare, ou seja, “aquietar”.
Até hoje é perceptível a ligação entre uma ideia e a outra: quem quita uma dívida – isto é, salda um compromisso, remite uma obrigação – livra-se de uma aflição e portanto se aquieta, sossega, além de no mesmo ato sossegar o credor. Quando se diz “estamos quites (um com o outro)”, a mensagem é: “Não devo mais nada a você, nem você a mim. Podemos ficar em paz”.
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