Dundum: nome ‘engraçadinho’, poder letal
A curiosidade etimológica de hoje é uma sugestão da leitora Viviane Albuquerque, que me enviou a seguinte mensagem: Leio na Wikipedia uma notícia infame de oito anos atrás: “Em 16 de novembro, o jornal Daily Telegraph publicou uma reportagem acusando a polícia britânica de utilizar munição de ponta oca, conhecida como dundum, para matar Jean […]

A curiosidade etimológica de hoje é uma sugestão da leitora Viviane Albuquerque, que me enviou a seguinte mensagem:
Leio na Wikipedia uma notícia infame de oito anos atrás: “Em 16 de novembro, o jornal Daily Telegraph publicou uma reportagem acusando a polícia britânica de utilizar munição de ponta oca, conhecida como dundum, para matar Jean Charles. O armamento foi proibido pela Convenção da Haia de 1899, por motivos humanitários (o projétil se expande e se estilhaça dentro do corpo do indivíduo atingido, criando grande estrago e provocando dores lancinantes, o que normalmente não acontece com uma bala comum).” Dundum??? Que história é essa de dar um nome engraçadinho a uma coisa tão letal?
Dundum é o nome genérico que se dá popularmente a balas que, tendo a ponta oca (como as da foto) ou fendida, se deformam ou estilhaçam ao encontrar o corpo da vítima, aumentando o diâmetro do ferimento e o estrago que provocam.
Disso os ingleses entendem. As balas tipo dundum (também se escreve dum-dum) foram uma invenção deles, subproduto de seu aparato de dominação na Índia no século XIX, e tiveram amplo uso em conflitos militares até que, por razões humanitárias, foram declaradas proibidas pela Convenção de Haia de 1899. No entanto, nunca caíram em desuso, como se viu no caso de Jean Charles de Menezes.
O fato de o nome soar “engraçadinho”, como observa Viviane, é casual. Antenor Nascentes, clássico da etimologia brasileira, ensina que o substantivo comum derivou do nome próprio Dum-Dum, como era chamado “um acantonamento militar situado a cinco milhas de Calcutá, no qual existiu uma fábrica de armas portáteis onde se modificaram certas balas para torná-las mais eficazes, fazendo feridas muito perigosas”.
Uma curiosidade adicional, ainda segundo Nascentes, é que “o nome em persa e hindustani é damdamã e seria damedame em português, se não seguíssemos a transcrição inglesa”.