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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Do martírio dos santos ao crime passional

O caso do assassinato e esquartejamento do executivo Marcos Kitano Matsunaga por sua mulher, Elize (na reprodução ao lado, deixando o prédio com malas), já tem lugar garantido na galeria dos mais chocantes crimes passionais da crônica policial brasileira. Registrado pela primeira vez em nosso idioma em 1728, o adjetivo passional veio do latim passionalis […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 08h40 - Publicado em 9 jun 2012, 10h00

caso-yoki-malasO caso do assassinato e esquartejamento do executivo Marcos Kitano Matsunaga por sua mulher, Elize (na reprodução ao lado, deixando o prédio com malas), já tem lugar garantido na galeria dos mais chocantes crimes passionais da crônica policial brasileira.

Registrado pela primeira vez em nosso idioma em 1728, o adjetivo passional veio do latim passionalis e significa, como se sabe, relativo à – ou provocado pela – paixão amorosa. Ninguém ignora que esta é capaz de, aliada à frustração e ao ciúme, arrastar pessoas de estrutura emocional menos sólida a atos de violência (mais sobre isso aqui).

É claro que o crime – passional ou não – é por definição a exceção e não a regra. No entanto, um passeio pela história da palavra paixão comprova que ela sempre esteve ligada ao campo semântico da violência e da dor, mesmo quando ainda não nomeava o arrebatamento amoroso.

Há pouco mais de um ano, a propósito da Semana Santa, escrevi aqui que, “para começo de conversa, é preciso compreender que a paixão foi suplício físico muitos séculos antes de ser arrebatamento afetivo ou sexual”. A coluna prosseguia assim:

Do latim tardio passio, passionis, a palavra surgiu com o sentido de padecimento atroz, em especial o de Jesus Cristo e o dos primeiros mártires da Igreja Católica. Ligada ao radical pati, é parente de palavras como passivo e paciente, e deixa entrever o apaixonado como aquele que suporta a dor. Foi com esse sentido religioso que paixão desembarcou em português no século 13, quando era grafada como “paixon” ou “paxon”.

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Em latim, uma ampliação semântica tinha se dado já nos primeiros séculos da era cristã, quando autores influentes começaram a usar ‘passio’ como traducao do grego ‘páthos’, para designar doenças do corpo e perturbações morais em geral. Mas o significado de desejo intenso, de sentimento de atração que está acima da razão, só chegaria ao português e ao inglês no século 14, por provável influência – o que não deixa de ser previsível – do francês, língua em que se começou a falar já no século 13 de ‘passion d’amour’ (sofrimento amoroso).

Coube aos falantes dos séculos seguintes dissociar gradualmente a palavra da ideia de dor, fixando-se no arrebatamento e na entrega emocional. A sombra da doença, porém, nunca abandonou por completo a paixão. O que, pensando bem, faz sentido.

Casos como o do assassinato de Marcos Matsunaga tratam de garantir que essa sombra nunca desaparecerá.

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