Do boato à mentira, passando pelo efeito manada
Há uma antiga relação etimológica entre a palavra boato e o efeito manada que, há duas semanas, provocou em agências da Caixa Econômica Federal e casas lotéricas uma onda de tumulto e confusão que ecoa até agora no governo, entre mentiras, desmentidos, silêncios e até férias da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello – leia […]
Há uma antiga relação etimológica entre a palavra boato e o efeito manada que, há duas semanas, provocou em agências da Caixa Econômica Federal e casas lotéricas uma onda de tumulto e confusão que ecoa até agora no governo, entre mentiras, desmentidos, silêncios e até férias da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello – leia aqui um resumo da crise.
A relação entre o boato e o efeito manada é simples: a palavra que empregamos para designar “notícia de fonte desconhecida, muitas vezes infundada, que se divulga entre o público” (Houaiss) nasceu do latim boatus, que queria dizer em primeiro lugar “mugido, berro de boi”, e secundariamente “berro, grito muito alto”. Boato brota da mesma raiz, bos, bovis (“boi, vaca”), de onde veio a palavra boi.
O vocábulo conservava sentidos próximos dos originais ao chegar ao português em meados do século XVI, ao lado de novas expansões semânticas – “clamor de novidade; notícia muito propalada” – que hoje estão em desuso, mas que são o elo perdido entre os mugidos e os rumores sem fundamento.
Não é claro em que momento da história, exatamente, a ideia de mentira, de balela, de papo furado contaminou irremediavelmente a carga semântica do boato. O certo é que, além do efeito manada provocado pelos mugidos figurados, as mentiras também contribuem para dar ao episódio do “fim do Bolsa Família” uma notável coerência etimológica.