Ditadura: tortura, amargura e… bravura
Uma após a outra, balançam as ditaduras no mundo árabe, sacudidas pela inédita onda de protestos deflagrada com sucesso na Tunísia. Uma esperança para a região e uma boa oportunidade de examinar essa palavra, ditadura, que muita gente acredita ter alguma coisa a ver com o adjetivo “dura”. No entanto, além da sonoridade e da […]
Uma após a outra, balançam as ditaduras no mundo árabe, sacudidas pela inédita onda de protestos deflagrada com sucesso na Tunísia. Uma esperança para a região e uma boa oportunidade de examinar essa palavra, ditadura, que muita gente acredita ter alguma coisa a ver com o adjetivo “dura”. No entanto, além da sonoridade e da coincidência de sentido com a violência que regimes do gênero normalmente empregam para se perpetuar, trata-se de uma pista falsa.
O termo, que ganhou seu primeiro registro na língua portuguesa em 1563, provém do latim dictatura, “posição ocupada pelo ditador”, ou seja, o dictator. Este era quem o Senado, na Roma Antiga, investia de poderes extraordinários durante seis meses para contornar situações de emergência. O ditador era assim chamado porque, simplesmente, podia ditar leis e ordens a seu bel-prazer. O arranjo começou a dar errado logo cedo: Júlio César, o último dos ditadores romanos, deu um jeito de ir ficando no posto até morrer.
O sufixo -ura, no caso, atua como formador de substantivos, e nesse sentido puramente morfológico a ditadura tem menos a ver com a linha-dura do que com as palavras tortura e amargura – ou ainda, em homenagem aos povos tunisiano, egípicio, jordaniano etc., bravura.