Devemos escrever ‘todo dia’ ou ‘todo o dia’?
“Nunca sei se devo ou não devo usar o artigo na expressão ‘todo (o) dia’. Já me disseram que sim e também que não. Afinal, é ‘todo dia’ ou ‘todo o dia’?” (Alexandre Ambrosio) Depende do sentido que você busca expressar, Alexandre. Existem as duas formas, mas elas não querem dizer a mesma coisa. “Todo […]
“Nunca sei se devo ou não devo usar o artigo na expressão ‘todo (o) dia’. Já me disseram que sim e também que não. Afinal, é ‘todo dia’ ou ‘todo o dia’?” (Alexandre Ambrosio)
Depende do sentido que você busca expressar, Alexandre. Existem as duas formas, mas elas não querem dizer a mesma coisa. “Todo dia” significa “todos os dias”, enquanto “todo o dia” equivale a “o dia inteiro”.
Por que é assim? Reproduzo abaixo – apenas com as adaptações imprescindíveis, pois o caso é basicamente o mesmo – o que expliquei em outubro de 2010 ao leitor (acredito que português) que estranhou o uso de “toda quinta-feira” num texto desta coluna.
Há entre as duas formas, sem artigo e com artigo, a diferença que existe entre a indefinição e a definição. Quando vem desacompanhada de artigo, a palavra “todo” é um pronome indefinido e poderia ser substituída por “qualquer” ou “cada”. Vem a ser o exato antônimo de nenhum: “Todo ser humano nasce livre”, “Todo dia ela faz tudo sempre igual” etc.
No outro caso, muda a classe gramatical. Se for seguida de artigo definido, a palavra “todo” é um adjetivo que indica completude, inteireza: “Revirou-se na cama por toda a noite”, “Todo o ano de trabalho foi destruído pela geada” etc.
Ou seja: “todo dia”, sem o artigo definido, significa “todos os dias”. Já “todo o dia”, com artigo definido, refere-se à totalidade de um único dia determinado.
Vale notar que o mesmo raciocínio é útil quanto tentamos captar a sutileza da diferença entre a locução “todo mundo” (“todas as pessoas”, frequentemente um exagero que quer dizer apenas muita gente) e “todo o mundo” (o mundo inteiro). Leia mais sobre essa distinção aqui.
Por fim, convém levar em conta que tudo o que foi dito acima se refere ao português brasileiro. Em Portugal, é frequente o uso do artigo definido mesmo quando “todo” é sinônimo de “qualquer” ou “cada”. Nesse caso, deixa-se apenas ao contexto a tarefa de eliminar a ambiguidade existente entre “todo o dia” (todos os dias) e “todo o dia” (a totalidade de um determinado dia).
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