‘Devagarinho’: existe diminutivo de advérbio?
“Gostaria de saber se pode usar advérbio no diminutivo. Já ouvi muito devagarinho e devagarzinho. Isso pode?” (Elton Henrique dos Santos) Sim, é possível haver diminutivo de certos advérbios. Alguns exemplos: “Entre devagarinho (ou devagarzinho)”, “Acordou cedinho”, “Foi e voltou rapidinho”, “Fique juntinho de mim”, “Tratarei do seu problema agorinha mesmo”. Nessas construções os advérbios […]
“Gostaria de saber se pode usar advérbio no diminutivo. Já ouvi muito devagarinho e devagarzinho. Isso pode?” (Elton Henrique dos Santos)
Sim, é possível haver diminutivo de certos advérbios. Alguns exemplos: “Entre devagarinho (ou devagarzinho)”, “Acordou cedinho”, “Foi e voltou rapidinho”, “Fique juntinho de mim”, “Tratarei do seu problema agorinha mesmo”. Nessas construções os advérbios “devagar”, “cedo”, “rápido”, “junto” e “agora” são intensificados pelo diminutivo. Sob a forma de diminutivo, o que temos é o grau superlativo: “muito cedo”, “muito rápido” etc.
Superlativos mais óbvios, como “cedíssimo” e “rapidíssimo”, são admitidos da mesma forma. Comparativos também, é claro: “Você come mais depressa do que eu”. Concluímos assim que, ao enfatizar a invariabilidade dos advérbios, muitos professores de português cometem uma simplificação indevida que acaba por confundir os alunos.
A intenção costuma ser boa. É verdade que advérbios não sofrem flexão de gênero e número: não se diz “taças meias cheias”. No entanto, a exposição dessa regra deve ser sempre acompanhada da ponderação de que muitos advérbios, especialmente os de modo, podem sofrer variação de grau, como se adjetivos fossem. Gramáticas normativas como as de Evanildo Bechara e Celso Cunha & Lindley Cintra consideram isso pacífico.
No caso dos diminutivos de advérbio, os sábios costumam apenas fazer a ressalva de que devem se restringir à linguagem familiar ou informal. De fato, seria impróprio escrever “cedinho” ou “agorinha” no relatório da firma ou num requerimento ao tribunal. Deve-se levar em conta, porém, que tal uso é antigo e documentado na obra de autores acima de qualquer suspeita. Está muito mais perto do espírito profundo da língua do que de uma transgressão.
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