De onde saiu a expressão ‘fechar-se em copas’?
“Professor, ouço com frequência, especialmente em política, que fulano se recolheu em copas, beltrano vai se recolher em copas etc. Donde vem e o que significa a expressão? Por exemplo: ‘… com a renúncia, ele (o Papa Bento XVI) vai se recolher em copas’; ‘… para não ouvir provocações ou vaias, os governistas acharam por […]
“Professor, ouço com frequência, especialmente em política, que fulano se recolheu em copas, beltrano vai se recolher em copas etc. Donde vem e o que significa a expressão?
Por exemplo:
‘… com a renúncia, ele (o Papa Bento XVI) vai se recolher em copas’;
‘… para não ouvir provocações ou vaias, os governistas acharam por bem se recolher em copas’;
‘Foi um recado para Lupi se recolher em copas?’.Abraço.” (Paulo Pinto)
A expressão tradicional – e bastante antiga – é “fechar-se em copas”, com esse “recolher-se em copas” citado por Paulo, de idêntico sentido, desempenhando papel de variante.
“Fechar-se em copas” é a locução que o Houaiss registra, com duas acepções: “tornar-se silencioso, calado” e “tornar-se aborrecido, zangado”. Esta última, ligada à ideia de ficar emburrado, e portanto amuado e silencioso, é menos usada.
Gosto mais da definição oferecida pelo filólogo Antenor Nascentes em seu “Tesouro da Fraseologia Brasileira”: “Não dizer o que sente, ficar calado, abster-se, guardar segredo”. Basta acrescentar a noção de “sair estrategicamente de cena, retirar-se” para que a carga semântica da expressão fique redonda.
A origem de “fechar-se em copas” comporta alguma controvérsia, mas provavelmente está num velho jogo de cartas. Segundo Nascentes, o famoso dicionarista português Francisco Júlio de Caldas Aulete a considerava uma expressão tirada do voltarete, jogo de baralho hoje caído em desuso, mas em voga no século XIX.
A tese da expressão oriunda da mesa de jogo me soa mil vezes mais simpática do que sua alternativa, que o autor do “Tesouro…” expõe assim: “Há quem julgue corruptela de ‘meter-se nas encóspias’. Encóspias, peças com que os sapateiros alargam as botas quando lhes põem a sola, é palavra menos conhecida; daí a substituição”.
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