De alorpados a aloprados – o retorno
O texto de hoje é uma reedição do que foi publicado aqui, sob esta mesma rubrica, no dia 4 de setembro do ano passado. O que fazer se a reportagem de VEJA tornou “aloprado”, mais uma vez, a indiscutível Palavra da Semana? Não culpe o colunista pela repetição, caro leitor. Culpe a realidade política brasileira, […]
O texto de hoje é uma reedição do que foi publicado aqui, sob esta mesma rubrica, no dia 4 de setembro do ano passado. O que fazer se a reportagem de VEJA tornou “aloprado”, mais uma vez, a indiscutível Palavra da Semana? Não culpe o colunista pela repetição, caro leitor. Culpe a realidade política brasileira, com seus cadáveres insepultos.
*
A palavra aloprado, um brasileirismo que quer dizer “maluco, desatinado, transtornado”, parecia embicada para um futuro de popularidade decrescente quando, em setembro de 2006, na reta final da campanha eleitoral, o presidente – e candidato à reeleição – Luiz Inácio Lula da Silva chamou de “bando de aloprados” os petistas flagrados tentando comprar um dossiê com informações sigilosas sobre políticos do PSDB.
Foi assim, rejuvenescido no calor da política, que aloprado ganhou uma acepção estrita que os dicionários (ainda?) não registram – “agente de inteligência ou espião a serviço de interesses político-partidários” – e escapou da sina de ser só mais um termo cômico com sabor de época, como mentecapto ou doidivanas, para designar um sujeito destrambelhado.
Aloprado veio de lorpa, que quer dizer idiota, palerma. Se de palerma se tira apalermado, de lorpa fez-se alorpado e em seguida, por metátese, aloprado. Metátese é o deslocamento de fonemas ou letras dentro de uma palavra, a mesma operação linguística que transformou, por exemplo, “desvariar” em “desvairar”.